O Planalto vai sustentar o discurso até o fim – até porque este está próximo – mas, nas conversas olho no olho nos principais gabinetes, ninguém dá mais um tostão furado pela aprovação da reforma da Previdência este ano, e muito menos em 19 de fevereiro, a data marcada.
Isso estava claro há meses, e já falamos aqui, mas entre alguns governistas ainda havia, aquela esperança de tudo se ajeitar. Confiavam nos bons números da economia e numa suposta mudança no humor da opinião pública depois das campanhas publicitárias de esclarecimento. Mas nem esses números foram tão retumbantes, a ponto de criar um clima de euforia, e nem as campanhas esclareceram tanto assim – até porque tiveram que ser suspensas por ordem da Justiça, que as considerou indevidas.
A isso se somou uma sequência de revezes e erros políticos do governo nesse início de 2018, que passa pela desgastante dificuldade de nomeação da nova ministra do Trabalho, pelo rebaixamento da nota de crédito do Brasil pela S&P e, sobretudo, pelo enxame de moscas azuis que mordeu aliados e integrantes do governo envolvidos diretamente na votação da Previdência – como Henrique Meirelles e Rodrigo Maia.
Ninguém acredita que Maia e Meirelles, candatos a candidatos a presidente, irão partilhar essa vitória no plenário da Câmara – o mais provável é os dois se estraçalharem durante a negociação, já que os aliados de um não vão querer fazer o jogo do outro. Menos ainda os aliados de outros candidatos, como Geraldo Alckmin, que se equilibra entre as promessas de fidelidade à reforma e a obviedade de que seus adversários ao centro não dividiriam os louros de uma vitória com o tucanato. Alckmin fechou questão a favor da reforma da Previdência apostando que ela não será votada.
Não é possível esperar também o apoio do PT e da oposição – ideologicamente contrários ao projeto que aí está -, e muito menos o da turma de Bolsonaro. A tentativa de transformar o limão do rebaixamento da S&P na limonada que poderia alimentar a pressão sobre os deputados para votar a Previdência, sob o risco de mais rebaixamentos, também pode ter sucesso duvidoso.
Corram, que a Moody’s vem aí! – não parece ser, por enquanto, um slogan com tanto apelo assim na Câmara
Mais do que compor a narrativa da ameaça, ou a da advertência, que levariam a uma atitude concreta, o episódio vem servindo sobretudo para instalar um clima de fim de festa, aquele baixo astral típico de final de governo, que vai tendo suas forças esvaídas, enquanto o foco passa a ser o poder futuro.