O Carnaval é sempre uma festa – e também o termômetro da temperatura política do país. Como sempre acontece, ou pelo menos desde a redemocratização, no governo Sarney (é sempre estranho juntar Sarney e democracia numa mesma frase), alguns políticos, pela imagem simpática ou pelo deboche, vão parar nos rostos de milhares de brasileiros país afora. Se, no ano passado, endereços comerciais populares, como a 25 de Março, em São Paulo, o Saara, no Rio de Janeiro, e a Torre, em Brasília, já estocavam nessa época as caras plásticas de Trump, Dilma, Lula, Obama e Sérgio Moro (Joaquim Barbosa, que foi o hit de 2013, hoje não é consenso nem no PSB), neste ano as máscaras carnavalescas refletem a própria confusão política – e a ira geral com a política.
No Rio, um governador com um fiapo de popularidade, outros dois presos e um prefeito que não gosta da folia já podem ter suas máscaras encontradas nos melhores camelôs do ramo. O prefeito Marcello Crivella, bispo licenciado da Igreja Universal do Reino de Deus, esse ano deve repetir a postura antipática – e nada carioca – do ano passado, quando não compareceu à tradicional entrega das chaves ao Rei Momo, evento que marca a abertura oficial do Carnaval, nem apareceu na Marquês de Sapucaí. Foi a primeira vez, em 33 anos de Sambódromo, que o prefeito do Rio não participou dessas iniciativas, que estão acima de qualquer religião e ajudam a divulgar um dos maiores eventos da cidade, trazendo turistas e receita para os cofres públicos. Nem quatro acidentes com 32 feridos fizeram Crivella ir à passarela do samba.
Já o governador Luiz Fernando Pezão e os ex-governadores, o presidiário Sérgio Cabral e o ex-presidiário Anthony Garotinho, estão cotados entre as fantasias que devem ser as mais usadas pelos foliões cariocas. As fábricas de máscaras mais tradicionais, na periferia do Rio, já estão a todo vapor na produção dos adereços, que devem ser usados no Carnaval, mas que poderão ser guardadas até o fim do ano, para um bis durante as eleições de outubro. Máscaras com o rosto do presidenciável, o deputado-capitão Jair Bolsonaro, também estão entre os pedidos, contando com a animação dos bolsominions. Ele é a aposta da maior fábrica de máscaras do país, a Condal, em São Gonçalo, que este ano vai trocar Trump por outra personalidade internacional que anda bombando: o líder norte-coreano Kim Jong-un.
Outro presidenciável, que tem sua candidatura ameaçada pela Justiça, o ex-presidente Lula, seguirá por mais um ano como uma das fantasias mais fabricadas – para o bem e para o mal. Lulistas de carteirinha e antipetistas, que costumam juntar às máscaras roupas de presidiário, garantem o sucesso do produto, um campeão de vendas desde 2002. É o que os fabricantes chamam de acervo clássico de máscaras, da qual faz parte também a ex-presidente Dilma Rousseff, igualmente para todos os tipos de eleitores.
E, claro, haverá máscaras de Temer. Se bem que, alertam os entendidos, de tão impopular o presidente pode virar o encalhe do Carnaval este ano. A máscara de Temer, explicam os fabricantes, vende mais no Halloween, como aconteceu em 2017. Quem precisa de vampiro e capeta quando tem Michel.