Ao responder, em entrevista a O Globo, sobre uma eventual aliança dos tucanos com a turma de Temer na sucessão presidencial, Fernando Henrique fez uma avaliação óbvia sobre o PMDB: o partido vai se fragmentar na corrida ao Palácio do Planalto, seu eixo sempre foi eleger bancadas federais, com base em alianças estaduais.
FHC concluiu que o PSDB não precisa ficar refém do PMDB. Ele tem razão. É um partido do tipo que sempre crava triplo na loteria em que se aposta no resultado de um jogo de futebol — é uma legenda tão velha quanto essa modalidade de aposta. Por isso, há sempre uma banda do PMDB à postos para embarcar em alguma candidatura competitiva ao Planalto.
Mais do que essas avaliações típicas de FHC, o que surpreendeu foi a repercussão. Dessa vez, não foram os Maruns da vida que reagiram. No próprio O Globo, na matéria com o título “Lideranças do PMDB criticam declarações de FHC”, a foto é de Jarbas Vasconcelos. Também é dele a crítica que dá peso à notícia.
Foi uma surpresa. Jarbas Vasconcelos, hoje deputado, e Pedro Simon, sempre ativo, são remanescentes da luta histórica do velho MDB, sob o comando de Ulysses Guimarães, contra a ditadura militar.
— Era melhor ele não ter falado, repreendeu Jarbas, um político cauteloso e zeloso sobre o que fala.
As restrições de Fernando Henrique ao PMDB de Temer, mesmo com algum aplauso às reformas e aos sucessos da equipe econômica, tiveram como foco a questão ética.
Na mesma linha do Jarbas de sempre. Exemplo recente: por duas vezes, votou a favor da autorização para que o STF abrisse investigações das denúncias contra Temer. Ele, que já era olhado meio de soslaio pela cúpula do partido, passou a ser visto apenas como adversário.
O entorno de Temer, Romero Jucá à frente, resolveu rifar Jarbas. No percurso, atropelaram o DEM e fizeram um acordo com a família Coelho, uma das mais tradicionais de Pernambuco.
O combinado foi tirar o PMDB de Pernambuco das asas de Jarbas e entregá-lo para o senador Fernando Bezerra Coelho e a seu filho, o atual ministro das Minas e Energia.
Era jogo jogado na Executiva do PMDB. O deputado Baleia Rossi, relator do caso, é o líder do PMDB na Câmara com o cacife de ser da copa e cozinha de Temer.
Jarbas conseguiu duas liminares judiciais, em Brasília e Recife, que impediram a Executiva de dissolver o diretório do PMDB em Pernambuco, presidido pelo vice-governador Raul Henry.
A briga é por opções diversas na sucessão estadual.
Para contornar o veto da Justiça, ficou acertado que a Convenção Nacional do PMDB, marcada para a próxima terça-feira (19), mudaria os estatutos. Esse tema continua na pauta.
O que parece ter mudado foi a relação de Temer com Jarbas Vasconcelos. Jarbas quebrou o gelo indo a um jantar em que o presidente tentava conquistar votos para a reforma da Previdência. Ali, ficou acertada uma conversa a dois no Palácio do Planalto.
O encontro ocorreu na manhã da quarta-feira (6) de dezembro. As versões sobre o que rendeu a conversa variam pouco. Há quem diga que Temer se limitou a avaliar os argumentos de Jader contra a mudança no PMDB de seu Estado. Mas também quem assegure ter Temer dito que vai pedir a Baleia Rossi que segure o processo.
O fato é que na terça-feira uma carta será revelada. Se for contra Jarbas Vasconcelos, de nada adiantou sua iniciativa. Mas, se a favor, surtiu efeito.
Poder jogar com cartas tão valorizadas é um trunfo de Temer.
A conferir sua aposta.