Fechar questão numa votação é sempre uma jogada de risco. Pode ter efeito positivo e deixar à vontade deputados que estavam pressionados pelas bases a votar de uma forma – ganham a desculpa da disciplina partidária para votar do jeito que o governo e o partido querem. Quando usado na base do desespero, porém, o recurso pode ter efeito contrário, expondo dissidências e divisões, e enfraquecendo mais ainda o Planalto e os partidos aliados.É que pode acontecer agora no caso da Previdência.
Fechar questão e perder – ou não conseguir votar, que é uma espécie de derrota – é desmoralizante. E pode destroçar de vez um governo e sua base. É uma medida extrema que pode acelerar a percepção de que o rei está nu.
Há muitos e muitos anos, nos idos de 1984/85, foi o que aconteceu nos estertores do regime militar, acelerando sua deterioração, quando o então partido do governo, o PDS, fechou questão pelo voto em Paulo Maluf no Colégio Eleitoral que acabou elegendo Tancredo Neves.
Naquele jogo de cartas marcadas, o PDS teria maioria numérica para derrotar Tancredo, não fossem as dissidências no próprio partido, formadas pelo grupo que acabou intitulado Frente Liberal – o pai do extinto PFL, hoje DEM -, integrado por José Sarney, Marco Maciel, Guilherme Palmeira e outros. A direção do PDS fechou questão e chegou a recorrer à Justiça argumentando que os votos dados a Tancredo, contrários à orientação partidária, não poderiam sequer ser computados. Coisas da ditadura. Mas perdeu todas no TSE, expôs a deterioração do regime e Tancredo foi eleito pela aliança entre o PMDB e os dissidentes.
Guardadas as diferenças de tempo, espaço, objeto e motivação, a consequência de um fracasso na estratégia do fechamento de questão determinada pelo Planalto para a Previdência pode ter um resultado parecido: expor a deterioração política do governo Michel Temer e mostrar que o rei está nu.