Assim é se lhe parece. Do alto dos 5% de aprovação positiva e dos 1% a 2% que Michel Temer e Henrique Meirelles obtêm em pesquisas como o Datafolha deste fim de semana como eventuais candidatos, o governo resolveu falar grosso com o PSDB na eleição presidencial. Vai ter candidato em 2018 e este não será o tucano Geraldo Alckmin, anuncia. É para valer? Tudo indica que não.
As reuniões deste domingo com os comandantes dos partidos do Centrão, no Jaburu e na residência do deputado Rodrigo Maia, e a entrevista do ministro Henrique Meirelles à Folha foram claramente programadas para dar este recado: se esses tucanos continuarem enjoadinhos do jeito que estão, relutando para votar a Previdência e olhando com ar blasé uma aliança com o PMDB para a eleição presidencial, Michel Temer vai lhes dar uma banana e inventar um candidato – Meirelles, Maia ou o próprio Michel – com outra turma, o Centrão.
Só que todo mundo sabe que política é teatro. E essa estratégia cheira muito mais a um gesto para dar um tranco nesses tucanos emproados do que a uma alternativa política viável. Sobretudo porque a candidatura palaciana depende de um lote na lua. Não exatamente da melhoria dos índices da economia, que devargarzinho vão se levantando, mas sim da percepção do eleitor de que terá havido alguma melhora consistente em sua vida antes de ir à urna.
Isso já é bem mais complicado, e hoje está no campo do imponderável. Até agora, a recuperação não deu sinal de vida nas pesquisas, deixando Michel e seus governistas no mais baixo patamar de popularidade presidencial da história.
Essa estratégia, portanto, parece visar sobretudo a assustar o PSDB. Afinal, para a candidatura Geraldo Alckmin, seria mesmo um estrago ter um concorrente lançado pelo PMDB e pelo Centrão. Ainda que sem chances de vencer, levaria o maior tempo de TV e dividiria os parcos votos que sobraram para os candidatos de centro, imprensados pela polarização Lula-Bolsonaro.
É também teatro, portanto, o aparente desinteresse de Alckmin e companhia por uma aliança com o PMDB de Temer. No fundo, ele quer muito esse tempo de TV, a máquina estadual do partido e o resto de tinta que ainda sobra na caneta de Michel.
Por ironia do destino, a candidatura Geraldo Alckmin depende também do imponderável para vencer essa queda-de-braço e virar candidato do centro: tem que subir rapidamente nas pesquisas até março/abril, saindo dos números modestos de hoje, mostrando que é viável. Afinal, se for para perder feio, a turma do Temer preferirá perder com tempo na TV para defender seu legado – se é que isso aparecerá até lá – ou se defender da Lava Jato.
Até lá, portanto, é tudo um grande teatro em que o roto tenta provar para o esfarrapado que está mais bem vestido. Mas ambos sabem que só têm chance juntos.