Em lances inusitados, caciques tucanos arregaçaram a manga e partiram para a briga. Durou pouco. Ao abençoarem o educadíssimo Geraldo Alckmin como pacificador e projeto de volta ao poder, os cardeais do PSDB também esperam devolver os bons modos às disputas no ninho tucano.
O clima de pugilato, com os pesados bate-boca entre os senadores Tasso Jereissati e Aécio Neves, assustou quem sempre resolveu suas pendengas em bons almoços e jantares, com poucos comensais.
Essa pax tucana, porém, ainda é frágil. Mesmo com a sequência de atos em que pretendem dar mostras da reconstrução da unidade no ninho até sua convenção nacional no domingo (9) de dezembro.
É como se, em um passe de mágica, eles pudessem encolher o bico. Nessa terça-feira (28), fizeram o primeiro dessa série de atos. Lançaram uma espécie de programa de governo intitulado “Gente em primeiro lugar: o Brasil que queremos”, elaborado pelo Instituto Teotônio Vilela, sob o comando da ala governista do partido.
Puseram água no chopp antes mesmo da festa. Tasso Jereissati, o interino defenestrado, detonou o tal documento mesmo sem tê-lo lido. “Ficou velho. Caducou”, sentenciou. Alberto Goldman, o interino que o sucedeu, reagiu: “Como é? Não leu e não gostou? Foi ele que mandou fazer para o congresso determinado por ele. Deveria ter lido antes de opinar”.
Coube a Elena Landau, da tropa de elite dos economistas tucanos, o tiro para valer no tal esboço de programa de governo.Ela desdenhou do conjunto de “platitudes”. E arrematou: “Não tem novidade, ousadia, não tem nada”.
Nessa quinta-feira (30), ainda sob a batuta de Goldman, a Executiva Nacional do PSDB se reúne para o segundo ato planejado para exibir unidade que também pode dar errado.
Entre os temas em pauta, as chamadas regras de compliance, uma maneira de criar critérios para evitar que, em falhas futuras, o partido deixe de passar a mão na cabeça como fez com Aécio Neves, flagrado em conversa indefensável com o empresário Joesley Batista.
Tem mais: também está na pauta regulamentar os critérios para eventuais prévias para a escolha do candidato do partido ao Palácio do Planalto.
Depois da pajelança no Palácio Bandeirantes, em que, sob as bênçãos de Fernando Henrique, Tasso Jereissati e Marconi Perillo abriram alas para Alckmin, poderia até ser um tema vencido. Ainda não foi.
Em outro flanco, o prefeito Arthur Virgílio, bom de briga, continua em sua campanha contra o hábito tucano de tomar decisões em almoços e jantares exclusivos. Sem a presença dele e de outros caciques.
Ele prega uma disputa com o propósito declarado de tirar o PSDB de seu ninho de conforto. Se for em frente, pela primeira vez, os tucanos podem quebrar seus próprios ovos antes de decolarem para um voo incerto.
A conferir.