Michel Temer “não é pato morto” e ainda pode influir em 2018. Lula é carta fora do baralho – terá certamente sua candidatura presidencial impugnada com base na Lei da Ficha Limpa, depois que o TRF da 4ª Região pelo menos confirmar a sentença do juiz Sergio Moro que o condenou a 9 anos e meio de cadeia. Jair Bolsonaro reflete uma parte da sociedade que namora com o autoritarismo, mas não tem nenhuma chance de se sustentar até um segundo turno. Luciano Huck pode ser sim uma surpresa – mas como vice, na retaguarda de algum candidato de centro com estrutura partidária. Você pode concordar com todas, algumas ou nenhuma das afirmações acima, mas saiba que todas partem de um dos mais experientes analistas políticos do Brasil.
Nesta entrevista aos Divergentes, o cientista político e sociólogo Antonio Lavareda, que participou, como coordenador ou consultor de estratégia, de mais de 100 campanhas majoritárias, traça o cenário mais provável para 2018 – sem brincar de fazer futurologia. Sem Lula e Bolsonaro, como prevê o diretor-presidente da MCI Estratégia, abre-se uma avenida ao Centro para algumas das candidaturas de centro-direita na corrida para o Planalto – mas ainda sem um candidato que, até agora, aglutine em peso a preferência popular. Estão nessa lista nomes como Geraldo Alckmin e João Doria, do PSDB – este último com menos chances -, o atual xerife da Economia, Henrique Meirelles, e figuras alternativas como Luciano Huck, que Lavareda enxerga mais como vice de alguém. Mais à esquerda, mas com viés de Centro, estão Marina Silva, da Rede, e Ciro Gomes, do PDT. Também tem sido lembrado, entre os franco-atiradores, figuras como do ex-presidente do STF, Joaquim Barbosa. Com a palavra, Lavareda.
Os Divergentes: O publicitário Nizan Guanaes encontrou-se agora em novembro com o presidente Michel Temer, deu alguns conselhos, mas preferiu não se aventurar a cuidar da imagem do governo, que convive com índices baixíssimos de popularidade e aprovação. Qual a sua opinião sobre a imagem do governo?
Antonio Lavareda: Eu acredito que o presidente acertou ao definir como eixo da agenda de seu governo a questão da economia, da retomada do crescimento, da remoção dos obstáculos ao crescimento e da superação da recessão. Na dimensão econômica, o governo tem uma série de êxitos a comemorar: uma taxa inflacionária bem menor, taxa de juros menores que a metade da que encontrou. Também começa a ter resultados em emprego com carteira assinada e retomada da ocupação. Ainda são números elevados de desemprego, mas a realidade que encontrou era ainda mais dramática. O governo Temer, acredito, vai ficar inscrito para a história como aquele que conseguiu interromper a recessão e retomar, com muitas dificuldades, o crescimento econômico.
O.D. Em coluna recente no Globo, a Miriam Leitão escreveu que o presidente Temer é o único governante que não tem aumento de popularidade quando a inflação está em queda. A boa notícia parece não colar no Temer. Como se ele tivesse um teflon ao contrário. Por que a popularidade de Temer segue tão rasteira?
A.L.: Eu mesmo usei essa expressão dois meses atrás, teflon às avessas – talvez eu tenha sido o primeiro a utilizar. Ocorre que as mesmas pesquisas que mostram essa baixa popularidade, apontam na direção de que uma parcela da sociedade pode ter uma leitura um pouco melhor desse governo Temer do que parece à primeira vista. Às vésperas da votação da segunda denúncia (contra Temer) na Câmara, o Datafolha mostrou que 37% dos ouvidos achavam que o governo deveria caminhar até o final do seu mandato. Em faixas de renda maior, metade dos brasileiros acreditava que o governo Temer deveria ter seu percurso normal até as eleições do próximo ano. É possível, assim, que haja um fenômeno que na literatura de opinião pública chamamos de ‘espiral do silêncio’, teoria da alemã Elisabeth Noelle-Neumann. A ideia central é que parte dos indivíduos ocultam sua verdadeira opinião quando conflitantes com a opinião dominante devido ao medo do isolamento e crítica. É uma explicação para o fato de, mesmo com essa suposta rejeição enorme ao presidente, não haver manifestações de massa em todo o Brasil pedindo a deposição e o afastamento do presidente.
O.D. Temer pode, se houver mesmo essa melhoria na economia, se tornar ele próprio candidato ao Planalto?
A.L. O simples fato de se cogitar a possibilidade de o presidente Temer vir a ser candidato mostra que ele está longe de ser o que, na política americana, chamam de ‘pato morto’ – um presidente em final de mandato com pouca capacidade de influenciar sua sucessão. Temer não é um ‘pato morto’. Se o presidente será um eleitor influente, caso não se candidate, é uma questão que dependerá do processamento pela sociedade das boas notícias no plano econômico ao longo dos primeiros meses de 2018.
O.D. Como assim?
A.L.: O que influencia o comportamento eleitoral não é propriamente o estado da economia, mas a tradução desse estado na dimensão subjetiva, no bem estar, no nível de otimismo das pessoas. Tudo isso ficará mais claro em meados do primeiro semestre do ano que vem. O que posso dizer desde já é que o presidente Temer poderá não vir a ter o peso de Itamar Franco, outro que completou o mandato de outro presidente que sofreu impeachment – e que teve a seu favor o Plano Real. Mas decerto Temer não será pouco influente como foi o presidente (José) Sarney, em 1989. Ele não tinha nem o comando do seu partido, o PMDB, controlado efetivamente pelo Ulysses Guimarães, nem tinha um quadro econômico positivo, muito pelo contrário, como Temer poderá ainda apresentar ao país. Essa trajetória de resgate, de tirar o país da depressão econômica de três anos, será o principal legado de Temer.
O.D.: O sr. acha que Lula sairá candidato e, neste caso, estaria virtualmente eleito em 2018?
A.L.: Vou ser bem direto. O ex-presidente Lula não sairá candidato. Sua candidatura será impugnada pela Justiça. Essa é minha aposta. É o que acho que tem a maior probabilidade de ocorrer. E mesmo que ele viesse a concorrer, o ex-presidente tem uma rejeição disseminada nos diversos contingentes da sociedade – menos, evidentemente, na base da pirâmide – de tal monta que dificilmente teria condições de ser eleito no segundo. Então, acho que Lula não sairá candidato e, se for, perderá no segundo turno.
O.D.: O PT tem um plano B para Lula?
A.L.: Sempre teve. O próprio Lula já comentou, já deu sinais: o plano B mais viável seria a candidatura do ex-prefeito de São Paulo, Fernando Haddad, do maior estado do país, enraizado, com boa imagem, com realizações e obras administrativas – o que é bom durante uma campanha para mostrar na TV.
O.D. Com Lula fora, na sua avaliação, há, no pelotão da frente, ao menos nas pesquisas, o nome de Jair Bolsonaro. Com o sr. vê essa candidatura da direita pura?
A.L.: É alguma coisa que expressa, no Brasil de hoje, posições existentes na sociedade. Em tempos de globalização, em diversas sociedades, você registra atitudes reativas de diversos segmentos sociais, seja na Europa, seja nos Estados Unidos, que engendraram, por exemplo, a base de apoio da Frente Nacional, de Marine Le Pen, na França, e ajudaram a produzir a vitória do Donald Trump, nos Estados Unidos – embora não seja só isso. No Brasil, temos uma atitude regressiva de parte da sociedade, mais conservadora, e até namorando posturas e posições autoritárias, que explicam um pouco esse mercado eleitoral do Bolsonaro.
O.D. O sr. acha que ele tem chance reais?
A.L.: Nenhuma.
O.D. Se o sr. tivesse que apostar hoje, em que segundo turno o sr. apostaria em 2018?
A.L.: Veja, é bom lembrar que logo mais as pesquisas vão começar a testar os candidatos que são mais viáveis para o segundo turno. Isso educa os eleitores e produz o que se chama de ‘voto estratégico’, ou seja, o eleitor considera votar não mais no candidato ideal para ele, mas em alguém que possa derrotar os candidatos que ele mais teme.
O.D. O sr. arriscaria dois nomes para o segundo turno?
A.L.: Não, acho que isso hoje é exercício de futurologia totalmente inócuo. Quem fizer isso vai estar fazendo torcida e não análise. Nas últimas eleições, um ano antes, ninguém conseguia acertar os candidatos. É muito difícil mesmo há um ano divisar o futuro.
O.D.: Huck sai candidato ou é um balão de ensaio?
A.L.:A presidente, não acredito. A vice (presidente) seria um grande candidato.
Escute os áudios:
Imagem e legado do governo Temer
Popularidade do governo Temer
Reeleição de Temer
A candidatura de Lula e o plano B
A candidatura de Bolsonaro
Segundo Turno
A candidatura de Huck