O fracasso parece ter subido à cabeça do presidente. Com taxas de popularidade risíveis, investigações a acossa-lo e equilibrando bolinhas com um Congresso fisiológico de raiz, aparentemente incapaz de aprovar um naco que seja de sua Reforma da Previdência, Michel Temer parece mais preocupado agora em deixar uma surpresinha para o sucessor. Apesar dos balões de ensaio sobre uma possível candidatura Temer – nem os institutos de pesquisa acreditam que o universo possa conspirar tanto -, o que se trama agora, segundo a oposição, é algo mais maquiavélico.
Na economia, Temer pavoneia números parciais de emprego e consumo como se fossem uma retomada esplêndida. Sonha com uma marolinha econômica em 2018 para não sair escorraçado a la Sarney. Na política, estaria sendo gestado pelo núcleo sobrevivente do PMDB no poder – à frente Eliseu Padilha e Moreira Franco, ministros da Casa Civil e Secretário-Geral da Presidência -, em conluio com os togados Gilmar Mendes e Alexandre de Moraes, um plano para drenar os poderes do próximo presidente, caso seu nome comece com L e termine com A.
Se o tribunal decidir votar isso e entender que sim, abre-se uma brecha para uma articulação que Temer, segundo analistas, gesta há meses com seus aliados. Por outro lado, se o STF decidir que a articulação de uma emenda contraria a Constituição, qualquer iniciativa desse tipo terá que ser descartada.
De três cientistas políticos ouvidos pelos Divergentes, nenhum acredita que essa ideia avance – mas ressalve-se que na política nacional tudo já parece possível. “Seria muita forçação de barra. Não vejo o Temer levando isso adiante”, opina o cientista político André Borba, da Arko Advice. “Seria uma afronta à vontade popular porque um plebiscito já decidiu essa questão”, aponta Geraldo Tadeu Monteiro, diretor-presidente da IBPS Consultoria e Pesquisa.O fato é que, no último dia 14 – como confirmaram colunistas, como Daniela Lima, do Painel, da Folha de S.Paulo -, o ministro Alexandre de Moraes, que nem bom dia dá sem uma boa razão, pediu a inclusão na pauta de julgamentos do Supremo de uma ação, engavetada há 20 anos, que questiona se o Congresso poderia mudar o sistema de governo mesmo após a rejeição do parlamentarismo no plebiscito de 1993. Isso mesmo.
“Essa é a nova movimentação do golpe”, aponta o senador Lindbergh Farias, um dos primeiros a saber pelos corredores do Congresso da pauta-bomba “semipresidencialismo” – ou “semiparlamentarismo”, como queiram. “Querem tirar o poder do próximo presidente, ou seja, Lula, e transferir para esse Congresso desmoralizado”, denuncia. Na segunda, 20, PT, PSB, PDT e PCdoB divulgaram nota conjunta repetindo o mantra de golpe, cujo objetivo seria impedir que o presidente a ser eleito em 2018 assuma de fato o governo. “Trata-se de um movimento acintosamente estimulado pelo governo golpista para impedir que um presidente legitimamente eleito pelo povo assuma o governo com os plenos poderes previstos na Constituição”, diz trecho da nota.
Surto da oposição? No domingo, 12, dois dias antes de Alexandre desenterrar a ação, Michel Temer e Gilmar Mendes trataram do assunto com Eunício de Oliveira (PMDB-CE), presidente do Senado – numa agenda não oficial, como é de praxe. O assunto depois chegou a Rodrigo Maia (DEM-RJ), presidente da Câmara. Os encontros foram registrados pela coluna de Mônica Bergamo, na Folha de S.Paulo.
Se a trama for verdadeira, ainda que um plano B desesperado, o custo político – e pecuniário – anuncia-se bem alto, deixando no chinelo as negociações para sepultar as duas denúncias do MPF contra Temer na Câmara. Algo que, possivelmente, e feitas as devidas correções monetárias, só rivalizaria com a aprovação da reeleição, no governo Fernando Henrique, em 1997.
Como não descolou completamente da realidade, o marido de dona Marcela tem seu próprio plano E , se tudo der errado. E, de embaixada, E de Europa. Seguiria, guardadas as diferenças de biografia, a trilha deixada por Itamar Franco, que deixou a Presidência – igualmente ocupada após um impeachment, o de Collor – e virou embaixador do Brasil em Portugal, no governo FHC. Depois, no governo Lula, Itamar ainda assumiria a mesma função em Roma. Mais que um prêmio de consolação, pelo menos para Temer. Uma embaixada seria uma distância segura do Brasil – e de processos.