As cartas ainda não estão todas na mesa, mas o jogo de 2018 se acelerou bastante no feriadão. Num dos movimentos mais importantes, o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso advertiu seu partido, em artigo publicado no domingo, que chegou a hora de decidir: “ou o PSDB desembarca do governo em dezembro ou se embaralha com o PMDB e assume de vez o posto de coadjuvante na disputa de 2018”.
Tudo indica que o partido seguirá o conselho de FH na convenção de dezembro – se Temer não ceder antes às pressões do Centrão e tirar os ministros tucanos da Esplanada. E aí o símbolo do PSDB teria que deixar de ser o tucano para, quem sabe, ser substituído pelo mico…
Mas o que se destaca nesse movimento do ex-presidente é que vão ficando remotas as possibilidades de uma chapa PSDB-PMDB para a presidência, ou mesmo uma aliança prioritária entre os dois partidos em 2018.
Essa hipótese parecia viável antes da votação da segunda denúncia contra Temer no plenário da Câmara, quando interlocutores dos dois lados apostavam mais fortemente numa união do centro, traduzida no apoio do presidente peemedebista ao governador Geraldo Alckmin, hoje o mais forte pré-candidato tucano.
Mas a aproximação não rolou onde se esperava – nos votos da bancada do PSDB de São Paulo – e o clima esfriou. Pode ser que, no futuro, o PMDB de Michel Temer venha a apoiar a candidatura Alckmin, mas tudo indica que não terá protagonismo nessa aliança. Impopular demais, figura tóxica num palanque.
O auto-lançamento de Henrique Meirelles em entrevista à Veja também ajudou a complicar tudo. Ainda que seja um movimento para marcar posição e abrir negociações em torno de uma vice, por exemplo, não pegou bem entre os tucanos e reforça a divisão centrista, além de dificultar a votação de reformas e projetos do governo a partir de agora.
A reforçar o bate-cabeças e a dificuldade de aglutinar as forças que apoiaram o impeachment em torno de uma única candidatura, está ainda a divisão histórica do próprio PMDB, o mais macunaímico dos partidos – no sentido de ser sem caráter mesmo. Mais uma vez, o PMDB repete a velha tática de botar um pé em cada canoa e ensaia alianças com o PT de Lula em seis estados, com a pragmática concordância e o perdão do ex-presidente aos grupos que apoiaram o impeachment.
E voltamos à velha moral de sempre: amigos, amigos; negócios à parte. Em política, lamentavelmente, não existem lealdades profundas. Rei morto, rei posto. Só que o PMDB pode fazer com Michel Temer o mesmo que o PT faz com Dilma.