A velha demagogia, quando necessário, sempre ganha roupa nova. Às vezes, até com rótulos moderninhos tipo fake news e pós-verdade. Isso virou moda no marketing eleitoral e nos embates políticos mundo afora.
Aqui, no pré-jogo da sucessão presidencial, o vale tudo é escancarado.
Como a régua ética praticamente pôs quase todos na mesma vala, apesar do generalizado clima de confronto, às vezes é difícil distinguir quem está de cada lado. Se é que há lados realmente diferentes nessa história.
Por exemplo, com a derrubada de Dilma Rousseff, o PT e o PMDB, parceiros e cúmplices, principais protagonistas nos maiores escândalos da história, pareciam ter brigado para sempre. Ou, pelo menos, até o fim do governo em que um passou a perna no outro.
Esperava-se que, mesmo não tendo dado certo nas eleições municipais, o PT repetisse na sucessão presidencial o tal discurso contra o golpe. Qual o quê! Outro dia, Lula disse ter perdoado os “golpistas”.
Em pelo menos seis estados,“golpistas” e “golpeados” do PMDB e do PT voltam a namorar. Entre as paqueras avançadas, Renan Calheiros, que presidiu e apoiou o impeachment, e Eunício Oliveira, quem o sucedeu e banca a pauta de Temer no Senado. É como se a ruptura, cantada em verso e prosa na narrativa petista, fosse apenas uma rusga.
Esse resgate amoroso com muitos interesses nem é exclusivo. Lula e o PT namoram também partidos do Centrão que nem precisaram sair do governo na troca que fizeram de Dilma por Temer.
É toda essa velha turma, parceira no Mensalão e na Lava Jato, que o PT pretende reunir, sob a batuta de Lula, nas eleições ano que vem.
Alguém mais desavisado (ou crédulo) poderia até achar que seria a tal síndrome de Estocolmo. É apenas esperteza, a malandragem de sempre.
Mas há um ingrediente novo nessa disputa eleitoral: a inflação que multiplicou o preço do sempre valorizado foro privilegiado. Antes significava status e facilidades em investigações, inquéritos e processos que no final não iam dar em nada mesmo.
O nome desse jogo sempre foi impunidade.
Como o vento do Mensalão virou ventania na Lava Jato, com trovoadas, tempestades e raios imprevistos, o guarda-chuva do foro privilegiado virou o mais cobiçado refúgio. Políticos de todos os naipes, caciques ou índios que se meteram na lama, buscam esse abrigo, na expectativa de se manterem fora do alcance de juízes federais como Sérgio Moro.
Mais um exemplo cristalino. Da turma do PMDB na Câmara, definida como quadrilha e organização criminosa pelo procurador Rodrigo Janot, quem manteve o foro privilegiado despacha no Palácio do Planalto. Todos os outros estão na cadeia.
De alguma maneira, direta ou indiretamente, esse salvador foro privilegiado depende do voto popular. Ganha esse status os eleitos e os nomeados por quem venceu eleições.
Portanto, por mais gogó, artimanhas e grana, sempre há um risco de não dá certo.
Ganhar eleição sempre foi o Plano A dos políticos. As circunstâncias, e os temores, forçaram uma revisão desse horizonte. O que Lula, Temer, Aécio e os outros buscam é uma espécie de Arca de Noé para salvar a todos.
Costuram uma anistia ampla, geral e irrestrita para os políticos que usaram grana de propina para ficarem ricos ou para financiarem suas campanhas eleitorais. De um jeito ou de outro, foram beneficiários de dinheiro sujo.
O verdadeiro Plano A por enquanto está nas sombras. Tentaram outras vezes e não deu certo.
Aguardam o melhor momento para um novo bote.
A conferir.