Levei o maior show de Grande Otelo. Marcou oito vezes comigo e não apareceu em nenhuma delas. Eu tinha recebido a Bolsa Vitae para fazer um livro com grandes personalidades brasileiras, “Senhoras e Senhores”. Naquela nona ocasião, porém, achei que daria certo porque ele combinou o encontro num bar. E bar ele adorava tanto quanto a própria vida. Era um botequim bem carioca, daqueles que servem ovo cozido, linguiça frita e cerveja geladinha, no Bairro Peixoto. Mais uma vez, nada de Otelo.
A filha do ator sabia da minha corrida contra o tempo para fechar o livro. Ajudou-me dizendo para ir à casa de Aurora, irmã de Carmem Miranda, no Leblon, e ele lá estaria. E estava. Fui bem recebido, saudado gentilmente por Otelo. Apresentou-me aos presentes como “velho amigo”. O acompanhei em duas ou três caipirinhas, o vi cantar e declamar, piscar para as moças, contar histórias e de repente se impacientar. Queria ir embora. Mudar de lugar.
Desci com Grande Otelo o elevador. Eu já havia estendido na cadeira de vime da portaria o pano vermelho que está presente em todas as fotos de “Senhoras e Senhores”. Era o cenário que eu havia construído para retratá-lo. Finalmente depois de seis meses, eu conseguia, enfim, fotografá-lo.
Quando estava na porta do táxi, virou-se e indagou-me quando sairia o livro. Respondi que em novembro. E Otelo se foi.
Impressionante! A festa de lançamento, na noite de 26 de novembro de 1993, foi triste. Horas antes, naquele mesmo dia, Sebastião Prata, o Grande Otelo, tinha falecido em Paris, vítima de um enfarte fulminante.
Que figura aquele Otelo.