O deputado Vicente Candido destaca-se há meses como o relator da reforma eleitoral. Reuniões, conchavos, entrevistas. Não se falava ou discutia reforma eleitoral sem ouvi-lo.
Produziu ensaios, como a alcunhada Emenda Lula, que garantiria imunidade prisional aos candidatos oito meses antes da eleição. Flagrado, primeiro bancou o dispositivo; diante da repercussão negativa, mudou o script.
Shéridan Estérfany Oliveira de Anchieta não dispunha dessa badalação. A deputada era conhecida, sim, mas por sua formosa compleição física. O que lhe garantia as colunas sociais, não a crônica política.
No oráculo da era digital, uma pesquisa exibe a hiperbólica diferença. Diante da consulta “reforma eleitoral” seguida dos nomes dos indigitados, o deputado angaria 15 vezes mais citações no Google.
Mais eis que findaram os ensaios.
Os atores deixaram as coxias e o elenco subiu ao palco. Se Vicente Candido era o protagonista, Shéridan assumia, no máximo, o papel de deuteragonista.
O desenrolar do primeiro ato mostrou, então, que a personagem de Vicente Candido não foi bem construída. Se nos ensaios o roteiro produzia um novo sistema eleitoral, a encenação revelou improvisos.
Até aqui, tanto o distritão quanto o fundo eleitoral, por ele engendrados, foram alvos de apupos. Insuflado pelo teatro lotado de eleitores, o coro de deputados rejeitou os cacos.
Como aquele personagem que surpreende no momento do espetáculo, Shéridan costurou suas entradas em cena nos bastidores – o fim da coligação partidária e a cláusula de barreiras. Quando subiu ao palco não esqueceu sua fala, pois combinara com o coro.
A peça ainda não acabou. Estamos no primeiro ato. Senado, Presidência da República, TSE são outros momentos desse teatro encenado diante de uma plateia com 145 milhões de eleitores. Por enquanto, a bela Shéridan roubou a cena.