As regras para o financiamento das campanhas eleitorais de 2018 parecem empacadas na Câmara e no Senado. De maneira paradoxal, esse aparente impasse pode estimular um acordo entre os partidos. Dirigentes políticos ainda apostam que na undécima hora o Congresso vai dar um jeitinho para que não falte grana pública para bancar as campanhas de deputados, senadores, governadores e presidenciáveis.
O que vier, se vier, será definido na Câmara. No Senado, Edison Lobão, com a cara de pau de sempre, quer ressuscitar o financiamento pelas empresas, como se tudo o que foi revelado pela Operação Lava Jato fosse mera ficção.
O maior mentor dessa volta ao passado é o ministro Gilmar Mendes, voto vencido no Supremo Tribunal Federal na decisão que proibiu as empresas de bancarem as campanhas eleitorais.
Gilmar diz que, sem essa grana, o sistema ficou com um pé quebrado. Para ele, nem adianta aprovar o Fundo Eleitoral, a ser pago com dinheiro do contribuinte, porque os valores reais das campanhas são bem maiores.
São sim. Se somado o oficial ao Caixa 2 (a maior parte) são quantias astronômicas do tamanho dos escândalos que engolfaram praticamente toda a elite política.
Na verdade, é um fantasma com cara de bode. Todos sabem que não vai adiante, mas quem sabe pressione os deputados a acharem um jeitinho para conseguir mais grana para as campanhas.
Na noite da quarta-feira (23), na sessão da Câmara, outros bodes saíram de cena, como a fixação de mandato para juízes em todas as cortes. A criação de um Fundo Eleitoral financiado com 0,5% da receita líquida da União, algo em torno de R$ 3,6 bilhão, era uma aposta para valer.
Mas não resistiu à rejeição popular, em especial à repulsa quase unânime nas redes sociais.
Nessa quinta-feira (24), Rodrigo Maia aparentemente jogou a toalha. Disse não acreditar na aprovação de qualquer Fundo Eleitoral. Chegou a sugerir que os candidatos comprem um bom celular, com boa definição de imagem, contratem um bom cinegrafista amador, e cada um faça sua própria campanha de televisão.
Disse mais: “Seria uma boa experiência, ficaria mais natural, mais próximo da realidade da vida das pessoas do que essas campanhas milionárias”.
Ele até tem razão. Mas não é bem assim. Por alguns motivos.
É falso de que os partidos possam começar as campanhas sem dinheiro. Vão dispor de cerca de R$ 800 milhões do Fundo Partidário, são beneficiados de tempo em rádio e televisão, no valor estimado de R$ 1 bilhão, pagos pelos contribuintes, e ainda podem arrecadar dinheiro com pessoas físicas.
Segundo, porque esse aparente desprendimento de Rodrigo Maia não encontra eco entre os colegas. Estão todos ávidos por mais dinheiro para suas campanhas. Ao deixar no ar a possibilidade de que nenhum Fundo Eleitoral seja criado, mesmo com menos dinheiro, ele força os líderes a chegarem a algum acordo.
Afinal, eles só têm a ganhar. Sempre há tempo e disposição para isso.
A conferir.