Uma máquina moto-contínua, aquele aparelho hipotético em que um movimento se replica indefinidamente, é tida pelos cientistas como inviável. Não passa pelo filtro das Leis da Física. Mesmo contrariando princípios da Dialética, há quem ache esse modelo aplicável no teatro do absurdo que é a política brasileira.
Por exemplo, a novela em que tucanos, mais uma vez em crise, não sabem se ficam ou se rompem com o governo Michel Temer. Cada movimento pró-ruptura desencadeia uma sequência de outros:
● O Centrão se candidata a herdar os nacos de poder sob o comando do PSDB. O apetite é maior em relação ao Ministério das Cidades e à Secretaria de Governo, responsável pela articulação política.
● Temer repassa essa pressão para seus ministros tucanos, governadores e parlamentares governistas.
● Essa tropa governista, sob o comando de Aécio Neves, ameaça retomar o comando do partido e isolar o senador Tasso Jereissati.
● Esse jogo dá argumento a Temer para resistir ao assédio do Centrão e recoloca Aécio, tido como carta fora do baralho, pelo menos no jogo interno no partido.
● Como não passa de blefe, a ameaça de destituição de Jereissati e de enquadramento dos tucanos contrários ao governo têm efeito efêmero
● Os tucanos rebeldes vão continuar rebeldes.
● O Centrão sente que lhe estão passando a perna e vai voltar a cobrar mais cargos e verbas. Sempre há o que ganhar.
E a roda vai continuar a girar. A diferença é que custará cada vez mais para os cofres públicos.
Talvez moto-contínuo seja uma comparação sofisticada para essa lenga-lenga. A imagem mais adequada parece ser do cachorro que corre atrás do próprio rabo.
Às nossas custas.
A conferir.