Nas últimas horas, o processo de montagem da equipe do futuro governo deslanchou. Depois da decisão do cirurgião Raul Cultait, uma das estrelas do conceituado Hospital Sírio Libanês, de aceitar o comando do Ministério da Saúde, outras definições ocorreram. O deputado Osmar Terra (RS), presidente da Frente Parlamentar da Saúde, foi deslocado para o Ministério do Desenvolvimento Social. Terra será o representante do grupo do PMDB pró-impeachment no governo. De acordo com a turma que o indicou, ele teve uma boa experiência na área social ao assessorar a ex-primeira dama Ruth Cardoso, no projeto Comunidade Solidária.
No quebra-cabeça montado no Palácio do Jaburu, além de Osmar Terra, Eliseu Padilha (Casa Civil) Geddel Vieira Lima (Secretaria de Governo) e Romero Jucá (Planejamento) o PMDB emplacará outros dois ministros. Um deles no Esportes, indicado pelos caciques do partido no Rio de Janeiro, que pleitearam o cargo por causa das Olimpíadas. Mesmo com novos nomes sendo avaliados, continua no páreo o deputado Marco Antônio Cabral, filho do ex-governador Sérgio Cabral. Também faz parte da cota do partido o Ministério das Minas e Energia, chefiado há anos por senadores peemedebistas. De acordo com o entorno de Temer, Minas e Energia está reservado para um senador do PMDB. O ex-ministro Henrique Alves, amigo pessoal de Temer, ainda batalha para voltar ao Turismo, mas não conta com o apoio da bancada do PMDB na Câmara e nem da do Senado. O Turismo deve ser usado como moeda para acomodar aliados ainda sem espaço no novo governo.
O PP também estava no páreo da Saúde. O primeiro nome que o partido sugeriu foi o do deputado Ricardo Barros, que foi mal recebido pelos movimentos ligados à Saúde. Depois, o PP topou apadrinhar a indicação de Cultait. Ele resistiu. Na manhã dessa terça-feira, ele voltou a informar ao presidente do PP, senador Ciro Nogueira, que não aceitaria o convite. Pouco antes do almoço, voltou atrás. Temer vibrou com a decisão.
O PP será contemplado com a Agricultura, com a escolha de um nome que agrade ao agronegócio. Não será difícil. O PP tem vários nomes com esse perfil. Para a Integração Nacional, o PSB emplacou o deputado Fernando Bezerra Coelho Filho, que vai chefiar a pasta que, no Governo Dilma Rousseff, foi comandada por seu pai, o senador Fernando Bezerra Coelho. Não deixa de ser uma singular renovação na velha oligarquia dos Coelhos, que, há muitas décadas, dá as cartas na região de Petrolina, no sertão pernambucano, e sempre foi um celeiro de caciques na política nacional.
Com a ida do PP para a Agricultura, o bispo Marcos Pereira, presidente do PRB, vetado pelo agronegócio, foi surpreendentemente contemplado com a Ciência e Tecnologia. Dificilmente dará samba um quadro da cúpula Igreja Universal em seu relacionamento com a comunidade científica do país. Tem tudo para dar errado. Quem almejava a Ciência e Tecnologia era o PPS, com afinidade com o setor, mas que acabou se contentando com a escolha de seu presidente, o deputado Roberto Freire, para a Cultura.
Com a equipe econômica, Henrique Meirelles à frente, e o chamado núcleo duro do Palácio do Planalto fechados (Eliseu Padilha, Geddel Vieira e Moreira Franco, sem status ministerial), com a ajuda de Romero Jucá, Geddel foi escalado por Temer para encaixar as últimas peças partidárias. Além do Itamaraty (senador José Serra) e das Cidades (deputado Bruno Araújo), os tucanos devem apadrinhar também o futuro ministro da Justiça. Gilberto Kassab, presidente do PSD, fez de um tudo para continuar a frente da Cidades, uma pasta de grande potencial eleitoral. Kassab deverá receber uma boa recompensa: o Ministério das Comunicações.
O Ministério do Trabalho deve ficar mesmo com o Solidariedade. A escolha estava ontem entre dois deputados federais pouco conhecidos — Augusto Coutinho (PE) e José Silva (MG)-, mas bastante leais ao deputado Paulinho da Força, presidente do partido. O PTB também terá seu ministério. “Até amanhã batemos o martelo”, prevê o deputado Benito da Gama. Um dos cotados é o deputado Jovair Arantes, relator na Câmara do processo de impeachment. O PSC, outro partido que votou em peso a favor do impeachment, também terá seu quinhão. O PV trabalha para que seu líder, Sarney Filho, volte ao comando do Ministério do Meio Ambiente.
Por sua vez, auxiliares de Temer dão como certo que o PR continuará com o Ministério dos Transportes. Um dos cotados é o deputado Maurício Quintella, que deixou a liderança do partido para comandar uma forte dissidência em favor do impeachment. O DEM esteve cotado para uma de duas pastas – Minas e Energia e Educação. O PMDB diz que Minas e Energia está na sua cota. A tentativa do entorno de Michel Temer de convencer o DEM a bancar um notável especialista em políticas educacionais não deu certo. “Não existe essa hipótese”, diz o líder do partido na Câmara, Pauderney Avelino. Portanto, continuam no páreo os deputados Mendonça Filho (PE) e José Carlos Aleluia (BA). Até agora, o Ministério da Defesa está sendo tratado como cota pessoal de Temer. Eliseu Padilha chegou a sondar o ex-ministro Nelson Jobim, que não topou, e sugeriu o deputado Raul Jungmann (PPS-PE). O problema é dar dois ministérios a uma bancada pequena como a do PPS. Vale sempre uma ressalva, quando se trata de montar governo ou reforma ministerial, nem sempre o que parece de pé sobrevive às pressões de todos os lados.