Como se a situação de Michel Temer – no fundo do poço da popularidade e com a corda da denúncia da PGR no pescoço – já não estivesse suficientemente difícil, o próprio governo e seus aliados estão buscando mais encrenca. Nas últimas horas, acirrou-se a disputa entre a ala do governo que defende a mudança da meta de déficit fiscal de R$ 139 bi no orçamento deste ano, liderada pelos principais conselheiros políticos de Temer, como o senador Romero Jucá e o ministro Eliseu Padilha, e a equipe do ministro da Fazenda, Henrique Meirelles.
Não se trata de mais um conflito entre as áreas política e econômica do governo. É mais grave, e o tiroteio envolve dois grupos que misturam interesses maiores e personagens diversos. Ao lado de Jucá e de palacianos como Padilha, está o ministro do Planejamento, Dyogo Oliveira, que tem tido desentendimentos com Meirelles. Por exemplo, em torno da divulgação de um PDV que o colega da Fazenda classificou como “discussão preliminar” mas virou medida provisória em dois dias – o que talvez indique de que lado está o presidente da República nesse round.
Henrique Meirelles, porém, acaba de receber um valioso reforço à sua defesa da manutenção da meta fiscal do ano, o do presidente da Câmara e sucessor em potencial de Temer, Rodrigo Maia. Numa clara aliança com o ministro da Fazenda, de quem se aproximou desde que a possibilidade de afastamento de Temer se tornou mais real, Maia disse hoje que qualquer mudança na meta seria muito prejudicial ao país.
O confronto está aberto e o jogo parece ser pesado. Pessoas próximas de Meirelles apontam fogo amigo nas notícias divulgadas esta semana sobre os milionários ganhos do ministro como consultor de empresas antes de ir para o governo. Nada ilegal, mas constrangedor, seja pelas altas quantias, seja porque foram depositada no exterior, seja porque um dos clientes era a hoje malfadada JBS.
O assunto não repercutiu porque se, nessa briga, a mídia tem um lado, este é o de Meirelles. E se há algo que o establishment econômico do país teme hoje é a saída do ministro da Fazenda do cargo. A hipótese é ainda remota, mas se Meirelles, derrotado na disputa em torno do aperto fiscal, pega o boné e vai embora, Temer pode ser o próximo.
Por isso, por mais que o presidente da República tenha ficado chateado com a postura do ministro da Fazenda, que andou deixando claro que permaneceria no cargo num hipotético governo Maia, é bom ir devagar com o andor dessa briga. Nem Dyogo Oliveira nem Romero Jucá, nomes possíveis numa substituição de Meirelles, têm um décimo de sua credibilidade junto aos mercados. Será inevitável uma tempestade de instabilidade, que poderá arrastar a sobrevivência do próprio Temer.
Qualquer tiro em Meirelles hoje vai acertar Michel, e deixar a briga rolar pode ser suicídio.