O surrado e belo clichê que compara as mudanças políticas ao bailado dos ventos volta a fazer sucesso nas noites gélidas desse julho em Brasília. Por falta de melhor e mais segura referência, até os caciques viraram índio na tentativa de enxergar um palmo adiante nessa enroscada crise política.
Evidente que nesse nevoeiro todos querem tirar algum proveito ou, no mínimo, preservar posições. Mas, rigorosamente ninguém sabe o que vai acontecer daqui 10, 20 ou 30 dias.
Semana passada, conversei aqui e ali com políticos que costumam ser bons termômetros da temperatura na Câmara dos Deputados, palco da luta de vida ou morte da sobrevivência de Michel Temer no poder.
Saí de lá com a avaliação de que, apesar das marolas, Temer teria uma margem segura para não correr maiores riscos. Nessa quarta-feira (5), o vento ali soprava em outra direção.
Não foi um mudança brusca. Ela até parece suave. Mas é efetiva. Vozes experientes que antes trabalhavam pela permanência de Temer, com o argumento de que ela era importante nessa transição complicada, já avaliam outro cenário.
Em meio a outra boas máximas tipo “vaca não reconhece bezerro”, “quando pega fogo no mato, preá corre pro brejo”, e a tal da virada dos ventos, todas atribuídas a históricos caciques políticos, o mundo político, desconfiado, olha para o céu. E também para o lado.
E aí se vê Rodrigo Maia. Mesmo no papel de mais importante aliado de Temer na Câmara, ele não deixa de se preparar para a hipótese de ter de substitui-lo. Alguns chamam isso de golpe, outros de política.
Um experiente deputado, parceiro de Temer e de Rodrigo Maia, lembra da postura de José Sarney quando Tancredo Neves agonizava no jogo de vaidades dos médicos que o atenderam. Sarney não podia sorrir, nem fechar a cara, dar sinais de alegria ou de tristeza. Só esperar.
É assim que Rodrigo Maia tenta se comportar. Mas não custa nada tomar uma canjiquinha nas iguarias de festa junina no gabinete de Jovair Arantes, líder do PTB, a quem desde que disputaram a Presidência da Câmara não dava tanta atenção. Circular pelo plenário, trocando um dedinho de prosa…
Talvez a maior especialidade de um político seja sua arte de seduzir eleitores. Ele sabe agradar e identificar agrados. Nenhum deles diz que Rodrigo Maia está em campanha para suceder Temer, mas é voz corrente que ele está mais simpático, acessível, com jeito de candidato. E, pelo que os mesmos interlocutores me disseram de uma semana para outra, ganhando apoios.
Ele encorpa enquanto Michel Temer encolhe. O que rolou na Comissão de Constituição e Justiça é uma amostra disso. Rodrigo Pacheco, presidente da comissão, indicou Sérgio Sveiter como relator, ambos do PMDB de Temer, ambos se dizendo “independentes”. A leitura no Cafezinho dos Deputados era quase consenso: são aliados de Rodrigo Maia. Com o aval da Globo.
Isso quer dizer que a Câmara vai aprovar a autorização para Michel Temer ser processado no Supremo Tribunal Federal? Não. Esse é um jogo em aberto. Pesa, também, a avaliação de que entregar a cabeça de Temer é abrir a porteira para o procurador Rodrigo Janot, na reta final de seu mandato, ganhar passe livre para tratorar todos os parlamentares suspeitos de terem recebido propina e/ou dinheiro sujo nas campanhas eleitorais.
Tem aí uma turma que não está disposta a pagar esse preço.
Tudo somado e subtraído, a diferença é que, mesmo sem levar em conta prováveis delações de Eduardo Cunha e Lúcio Funaro, as ações de Temer estão em queda. E as de Rodrigo Maia em ligeira alta.
A conferir.