Como a Lava Jato ainda consegue escapar do cerco de todas as elites

Michel Temer e Dilma Rousseff.

Como diz a bela canção, o tombo do navio ou o balanço do mar pode ensinar o marinheiro a nadar. É assim que a Lava Jato, dia assim, outro também, em vias de afundar, consegue sobreviver.

Nunca antes na história deste país tantos poderosos, nas mais variadas instâncias, haviam se juntado por tamanha causa comum. São partidos políticos grandes, médios e até pequenos, alguns dos maiores campeões da economia dita privada, empresas estatais, sindicatos e seus representantes em empresas e fundos de pensão, e políticos, burocratas e vagabundos em geral.

Claro que há exceções. O problema é o tamanho do problema.

Quando as coisas tomam essa dimensão, geralmente se apresentam duas saídas.

Uma delas é o pragmatismo escancarado com uma pitada de cinismo. Aqui e alhures. Por exemplo, há empresas tão grandes, cujo debacle provoca um tsunami de consequências tão imprevisíveis, que não podem quebrar. Entre outras exibições, a gente viu esse filme na crise financeira mundial de 2008.

Vale também na política. Temos um exemplo recente por aqui. O voto decisivo de Gilmar Mendes no TSE para salvar da cassação a chapa Dilma Rousseff-Michel Temer, em que ele renegou tudo o que antes dizia, em nome de uma questionável responsabilidade pública. Trocou o papel de juiz, único para o qual estava escalado, pelo de gestor de governabilidade alheia.

A outra é apostar na democracia, insistir no que é mais correto, e pagar para ver. É uma opção muito rara. Na histórica esperteza do jogo na política, economia e relações sociais no Brasil, a regra sempre foi a impunidade ser vitoriosa.

Por todo e qualquer ângulo, a Lava Jato é um ponto fora dessa curva. Tem o inédito potencial de mudar a trajetória de todos esses nossos defeitos históricos.

Sua capacidade de resistência é impressionante. Há vinte dias, o chamado bunker palaciano – assim se designam os que se iludem em todos os governos diante de eventuais derrocadas– apostava numa virada de jogo. Seria o ponto de reversão. Começaria com a troca do comando da Polícia Federal. Isso chegou a ser ensaiado. Não deu certo. Virou tiro no pé.

O plano também era escolher um procurador-geral da República que pudessem chamar de seu. A intenção era de que a lista tríplice de nada valeria. Também não conseguiram. Estão felizes, na guerra contra Rodrigo Janot, por terem a opção de indicar uma adversária dele, Raquel Dodge.

Se o propósito era dar um troco em Janot, foram bem sucedidos. Se a intenção era acertar a Lava Jato erraram o alvo.

O vértice desse triângulo seria o Supremo Tribunal Federal. Acreditavam que ali se poderia dar um tranco na Lava Jato, mudando as regras em relação às delações premiadas. Também não deu certo.

Que bom.

 

Deixe seu comentário