A maior dúvida do mundo político nesse fim de terça-feira é se já terá chegado a hora do nó total – aquele momento em que governos fragilizados por crises políticas perdem o controle das coisas no Congresso e pára tudo. Até hoje de manhã, apesar dos fatos novos que insistem em acontecer todos os dias, a impressão geral era de que Michel Temer ainda contava com uma base parlamentar, capaz talvez até de salvá-lo da denúncia do PGR na Câmara. A derrota da reforma trabalhista na CAS do Senado, porém, mostrou que o descontrole pode estar mais próximo do que se pensava.
O mercado percebeu isso. O dólar subiu, a bolsa caiu, cresceu a desconfiança em relação a um governo que tem como principal sustentáculo junto ao PIB o discurso da aprovação das reformas. Se ficar claro que perdeu as condições de aprová-las, perde a razão de ser para muita gente.
O Planalto tentará, de todas as maneiras, atribuir a derrota a um percalço do caminho. Pode até conseguir, deixando claro que, afinal, foi uma grande bobagem de Temer sair em excursão pela Russia e pela Noruega, levando alguns tucanos na bagagem – inclusive o ministro da Articulação, Antonio Imbassahy – e deixando desfalcada sua linha de frente no Congresso. Era óbvio que, no meio da crise, isso não ia dar certo.
Pior ainda porque, nos próximos dias, com Michel Temer fora, o governo será obrigado a dar um sinal inequívoco de força no Congresso, de preferência no tema das reformas, que vai ter que concorrer com o noticiário das denúncias contra o presidente. Se não conseguir mostrar que ainda tem controle da base, o ambiente pode acabar tomado por aquele clima de fim de festa em que os aliados debandam, o cafezinho fica frio e vai tudo para a beleléu.