O tradicional clichê de que políticos e partidos mudam de opinião como quem troca de roupa está superado. A velocidade com que eles passaram a alternar posições é espantosa. Beira à esquizofrenia.
Nem é preciso comparar a adaptação, a cada mudança de ocasião, dos discursos de quem está no centro do furacão como Temer, Lula e Aécio. Acuados, a fala de todos eles fica cada vez mais parecida.
Nesse vamos que vamos pela sobrevivência, o dito de ontem sequer é lembrado hoje. Encerrou nesse sábado (3), em Brasília, o Congresso Nacional do PT, que começou a ser organizado com ameaças de que se não houvesse uma profunda autocrítica, uma tal de refundação, haveria um racha.
Seria o preço a pagar pelo envolvimento até o pescoço do partido e de suas principais lideranças em escândalos como a Lava Jato.
Pois bem. Nesse ínterim, com novas delações, documentos, gravações, o lamaçal atingiu em cheio tucanos como Aécio Neves e José Serra e os atuais inquilinos do Palácio do Planalto, Michel Temer à frente.
Com os adversários mergulhados no mesmo pântano, o PT esqueceu rapidinho da prometida expiação dos erros. A justificativa veio no discurso de sua nova presidente, Gleisi Hoffmann: “Não somos organização religiosa, não fazemos profissão de culpa, tampouco nos açoitamos. Não vamos ficar enumerando os erros que achamos para que a burguesia e a direita explorem nossa imagem”.
Desqualificar a autocrítica dessa maneira em sua estreia como presidente de um partido que se intitula de esquerda parece ignorância. Quem escreveu o discurso de Gleisi se esqueceu – ou talvez não saiba – que o exercício da autocrítica é peça chave nos fundamentos do socialismo mundo afora. A ponto de, no marxismo-leninismo, a autocrítica ser elevada à condição de método científico.
Na realidade, a pretensão do recado de Gleisi é bem mais pragmática.
É apenas uma fuga do espelho.