O mercado cansou de esperar solução para a crise política, que parece não ter fim, e quer alguém que toque as reformas iniciadas pelo presidente Michel Temer. Esta pessoa pode ser o próprio Temer. Para isto, o atual mandatário precisa garantir que ainda tem aliados no Congresso Nacional, responsável pela aprovação das mudanças na legislação trabalhista e previdenciária, principalmente.
Basta ler algumas manifestações. “O Brasil precisa de continuidade”, “reformas combateriam a queda de confiança”, “Temer não cometeu um pecado mortal”, ” temos que continuar as coisas, votar as reformas” e “a economia tem que seguir esse rumo que está determinado por este governo” são algumas opiniões da turma do dinheiro.
Registro: no final da semana passada, o pânico inicial dos mercados arrefeceu. Caso Temer, seriamente ferido depois que o magarefe de Formosa resolveu grampeá-lo, consiga convencer que ainda tem condições de entregar as reformas – ou alguma coisa parecida – poderá ganhar uma sobrevida. Mas não vai ser nada fácil.
Primeiro, esta expectativa mercadológica terá que ser compartilhada pelos integrantes do Congresso Nacional. Segundo, a Operação Lava-Jato não poderá revelar mais comprometimentos de Temer com malfeitos. Terceiro, o Judiciário (TSE à frente) terá que mostrar boa vontade com o atual presidente. Quarto, o mandatário precisa contar com o PSDB ao seu lado até o fim. Quinto, as ruas não podem repetir os maciços pedidos pelo impeachment de Dilma Rousseff.
Como se vê, jogo muito, muito difícil. Em seu favor, Temer tem a ausência de nome com algum consenso para substituí-lo, inexistência de regras para uma eleição indireta, disputa entre Câmara e Senado pelo protagonismo da sucessão e os artifícios recursais de que dispõe na Justiça, caso venha a ser condenado. Além do poder de pressão palaciano – com a nomeação de ministros, por exemplo.
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À oposição, na impossibilidade de aprovar as eleições diretas agora, poderá interessar um presidente sangrando até o fim do mandato. Além disso, quanto mais o tempo passa, menos meses sobram para o eventual substituto do substituto exercer o mandato-tampão. Como costuma dizer o divergente Andrei Meireles, “a conferir”.