O senador Jader Barbalho, talento político de uma geração, marcou sua biografia por outros atributos menos nobres. Depois de tantos escândalos, trocou a ribalta por um discreto desempenho nos bastidores. Em seu apogeu, ele gostava de dizer que, fora de controle, as crises perdem a cabeça e ganham pernas.
Boa frase para crises de outrora. Quando elas ainda tinham pés e cabeça. Pelo diagnóstico geral, o governo Temer é terminal. Sobrevive até que se encontre alguém com cacife para sucede-lo. O leque que se abre aí é impressionante.
Sem contar a turma de fora, estão no páreo quem represente cada um dos poderes da República. Surpreende é que, mais até que políticos, pipocam nomes ligados ao Judiciário. A maioria como espuma. Apenas dois com aparentes chances reais.
Um deles é Nelson Jobim. Seu cacife é único — agrada Lula, Fernando Henrique, e é filiado ao PMDB. Ele não se expõe, até nega o interesse. Alega dificuldades para sair de seu novo emprego, o banco BTG Pactual, e o veto de sua mulher, Adrienne Senna. Quem o conhece não leva a sério nenhuma das duas restrições.
Em encontro com banqueiros na quarta-feira (24), ele reiterou esses motivos. Bailou pra cá e pra lá, e, como quem não queria nada, deixou uma questão no ar. Até aonde valeria a pena ter o apoio do PT, e de Lula, na escolha indireta do sucessor de Temer, em troca de algum benefício para o ex-presidente da República.
Com essa tacada, Jobim mexeu no tabuleiro. A fila é grande. Deputados e senadores dizem que Temer exige benefício igual para sair de cena. Muitos outros querem pegar carona. A questão é como fazer isso.
O que as elites políticas propõem é passar uma borracha sobre os pecados passados e criar regras para puni-los no futuro. Nessa transição, Jobim ou qualquer outro entraria como árbitro. É aí que Gilmar Mendes também entra em cena.
Jobim acena para o futuro, Gilmar está com a caneta na mão. Há tempos, ele flerta com a turma na Câmara e no Senado enrolada na Lava Jato. Ali, ele é considerado um bom candidato à vaga de Temer.
Como presidente do TSE, ele está com a faca e o queijo na mão sobre o futuro de Temer. Inclusive em um jogo acordado. Se sentir que não tem mais condições de ficar no cargo, a degola preferida de Temer é na justiça eleitoral — até porque entraria como coadjuvante na cassação de Dilma Rousseff por abuso de poder econômico.
Nessa sexta-feira (26), Gilmar Mendes deu duas declarações que soaram como boa música aos ouvidos dos parlamentares que, em caso de queda de Temer, elegem seu sucessor.
Primeiro, ele propôs uma mudança no critério de homologação de delações premiadas, que passariam por um crivo colegiado. Na prática, isso significa tirar a decisão das mãos de Edson Fachin na Lava Jato. Simples assim.
Gilmar ainda pôs outra carta na mesa: quer rever a decisão do STF que, depois da condenação em segunda instância, o réu comece a cumprir a pena. Essa regra mudou o ritmo da Lava Jato e é um marco no combate à impunidade dos poderosos no país.
A justificativa de Gilmar Mendes para rever a decisão do STF é uma pérola. Num país em que as cadeias estão lotadas por gente que sequer foi julgada, ele diz que uma terceira instância serviria para atender os réus pobres.
Menos, Gilmar.