Medo de Loures empurra Temer a usar Exército em Operação Tabajara

O Ministério da Justiça é o mais antigo do País. Mudou de nome quando os marqueteiros de Michel Temer resolveram transformar o limão do motim da Polícia Militar capixaba em uma limonada. Com o novo batismo, passou a se chamar Ministério da Justiça e Segurança Pública.

Depois de uma série de trombadas, Michel Temer, que havia prometido um jurista respeitável ou um craque em segurança pública, surpreendeu a platéia e escalou para o cargo o deputado Osmar Serraglio, sem os atributos necessários para nenhum dos dois  papéis.

A indicação de Serraglio foi anunciada em 23 de fevereiro, mesmo dia em que o amigo de sempre de Temer e seu ex-assessor presidencial José Yunes tornou pública a informação de que teria sido “mula” de Eliseu Padilha no recebimento de dinheiro sujo da Odebrecht.

No dia seguinte, Padilha apresentou licença médica para se afastar da chefia da Casa Civil e saiu de cena. Ficou no ar uma sensação de orfandade.

Nesse vácuo, quem se apresentou foi Rodrigo Rocha Loures, um assessor especial de Temer, com cara de bom moço, até então escalado para conversas aparentemente de bom nível. Foi encarregado, por exemplo, de abrir canais com representantes do Ministério Público.

Mas, de repente, em uma só tacada, sobrou para ele dois papéis. Um decorrente do outro. De acordo com investigadores e políticos que conhecem as entranhas do PMDB, basta destrinchar seu envolvimento nas negociatas com a turma do Friboi para iluminar todo o cenário.

Vamos a ele. O empresário Joesley Batista, à frente do império da JBS, sempre teve tratamento especial de partidos e governos, aos quais bancava em troco dos mais variados privilégios.Como já escrevi aqui, no PMDB, os acertos de Joesley eram com Eduardo Cunha. Cassado e preso, ele perdeu o protagonismo. Fez jus no máximo a um cala-boca para não entregar ninguém.

Geddel Vieira Lima, que já circulava na área, virou o interlocutor principal de Joesley no PMDB até cair, no final de 2016, no escândalo do espigão de Salvador. Padilha, então, entrou em cena, assumiu o barco e o conduziu até ser atropelado pela primeira amostra do poder de fogo da Odebrecht.

Coube a Rodrigo Loures, improvisado por Michel Temer, substituir a esses experientes profissionais. Foi, assim, que ele intermediou a bombástica conversa de Temer com Joesley no porão do Jaburu, no  final da noite de 7 de março, quando também se despediu da obrigação de prestar contas como qualquer cidadão comum.

No dia seguinte, Rodrigo Loures pulou de categoria e ganhou foro privilegiado ao assumir o  mandato de deputado federal na vaga aberta por Osmar Serraglio. O jogo parecia bem amarrado, agradando o PMDB, o próprio Serraglio e a Rodrigo Loures. O que seria um bom enredo desandou.

Na avaliação do Palácio do Planalto, a gestão de Serraglio virou um completo fiasco. Ele não consegue ser interlocutor dos tribunais superiores, nem do ministério público, e morre de medo de assumir o papel de chefe da Polícia Federal. Já era uma dor de cabeça antes do novo escândalo. Ficou maior depois.

Deixou de ter serventia. Pelo que se ouve no Planalto, Osmar Serraglio é apenas uma alma penada na esplanada dos ministérios. Nessa quarta-feira (24), com uma série crise de segurança pública em Brasília, ele manteve uma agenda com audiências de outro mundo, a mais relevante foi um encontro com funcionários indígenas da Funai.

Michel Temer sequer cogitou de chamá-lo para a reunião em que aprovou a convocação das Forças Armadas para supostamente enfrentar uma crise de ordem pública em Brasília. Sua presença acabaria de vez com a seriedade dessa Operação Tabajara em que Temer quis exibir uma autoridade enganosa.

Não é crível que, para enfrentar algumas centenas de arruaceiros, a PM de Brasília precise de auxílio. Por qualquer critério – contingente, investimento, salários, equipamentos — ela dá um banho em corporações similares no país. Os soldados chegaram depois da dispersão dos manifestantes e dos baderneiros.

Se tivesse um ministro da Justiça a altura do cargo, bastava chamá-lo para, de público, dar uma satisfação ao pedido de Rodrigo Maia, presidente da Câmara, de um reforço contra eventuais arruaças em seu pedaço. Tudo o que Rodrigo Maia queria era uma justificativa para o público interno.

Foi o bastante, no entanto, para Temer se meter na trapalhada de chamar o Exército porque, além de querer exibir autoridade, não ter um ministro da Justiça em que confie nem possa dispensá-lo.

A questão é que, se demitir Osmar Serraglio, Rodrigo Loures, o homem da mala da vez, perde o mandato de deputado e o foro privilegiado. “Ele é o nosso fio desencampado”, me disse um dos interlocutores de Temer na desesperada busca de uma saída para pelo menos esticar sua permanência no poder.

Nesse contexto, Temer virou refém de Rodrigo Loures.

Além de grave, isso torna o desfecho da crise imprevisível.

A conferir.

 

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