Acuados pelas investigações da Lava Jato, Lula e o PT querem transformar o limão em limonada. Com sua tropa de choque, incluído aí seus combativos advogados de defesa, ele resolveu centrar fogo em Sérgio Moro, em uma ofensiva que mal esconde o medo com o desfecho dos processos em que é acusado de corrupção.
A estratégia de peitar Moro e a força-tarefa da Lava Jato é, também, uma maneira de ganhar tempo. Daí a saraivada de ações políticas e recursos jurídicos. Nessa quarta-feira (10), em Curitiba, Lula será interrogado por Moro. Mesmo com todo o clima de suspense, temperatura elevada, será apenas uma preliminar.
Lula sabe que já perdeu ali. Sua condenação por Moro não será, evidentemente, o resultado de uma trama entre elites empresariais, imprensa, e a força-tarefa da Lava Jato, para tirá-lo do páreo em 2018. Essa é a narrativa política para se contrapor ao avanço das investigações e fornecer um argumento, mesmo que torto, para que o defendam nas ruas, nas redes sociais e até na Justiça.
O que, de fato, pesa contra Lula e outros poderosos dos mais variados quilates é uma montanha de evidências.
Nunca antes neste país uma investigação sobre corrupção se baseou em tão farta documentação. As provas são tão consistentes — com informações obtidas aqui e no exterior –, que não restou alternativa a grandes empresários, executivos de empreiteiras, ex-diretores da Petrobras, lobistas, a não ser confessar crimes, devolver dinheiro e entregar comparsas, para não mofarem na cadeia.
Não fazem isso por gosto, mas falta de opção. Seus lucrativos crimes foram desvendados. O próprio ministro Gilmar Mendes, crítico contumaz às prolongadas prisões em Curitiba, reconhece isso. Em entrevista à Mônica Bergamo, na Folha, afirmou que fazer uma vinculação direta entre prisões e delações é uma visão equivocada:
— Não é a prisão preventiva que é determinante para a pessoa optar pela delação. E, sim, a perspectiva de pena. Quem praticou crimes de corrupção e lavagem de dinheiro vê no espelho a figura de Marcos Valério, condenado a 40 anos de prisão ( no Mensalão) e com perspectiva de não ter mais vida livre.
Não é crível, por exemplo, dizer que Renato Duque está trocando por penas mais leves o endosso às acusações contra Lula inventadas pelo Ministério Público e a Polícia Federal. O depoimento de Duque, inconteste representante do PT na diretoria da Petrobras, indicado por José Dirceu e nomeado por Lula, é, por si só, muito forte. Mais forte ainda é sua oferta para devolver 22 milhões de Euros, depositados em duas contas na Suíça, como reembolso da propina que recebeu como operador do quinhão petista no assalto à Petrobras. Duque ainda tem grana suja depositada em pelo mais uma conta no exterior, com valores ainda não revelados.
Essa dinheirama, que se soma a quantias astronômicas, não é ficção, nem faz parte de uma trama sinistra para destruir Lula e o PT. Ela é real. Ninguém abre mão de tamanha fortuna e confessa crimes se não tiver sido apanhado com a boca na botija. E ninguém, em lugar nenhum do planeta, consegue fazer um assalto aos cofres públicos dessa proporção, e por tanto tempo, sem, no mínimo, a conveniência dos inquilinos no poder.
Mesmo com todos seus receios, Lula planeja mostrar exibir força em Curitiba com três propósitos: 1) — Dar uma satisfação a seus partidários para manter o cacife eleitoral, que, em sua ótica e de aliados, o autoriza a falar grosso; 2 –Não ser preso por decisão de Moro e, pelo menos, adiar a condenação em segundo grau — o que pode livrá-lo da cadeia e da Lei da Ficha Limpa; 3) –Ajudar a articulação entre os maiores caciques políticos para pressionar o Supremo a dar um freio de arrumação na Lava Jato.
Nesse jogo perdido, se Lula arrancar um empate em Curitiba, e conseguir prorrogar a partida, ele terá sabor de vitória.
A conferir.