Para o bem ou para o mal, Lula é Lula. Depende das circunstâncias, pode ajudar ou ser um estorvo. Nas eleições municipais, conseguiu a proeza de prejudicar os candidatos do PT, a ponto de ser afastado da campanha no rádio e na tevê de Fernando Haddad em São Paulo. Sumiram com ele até em São Bernardo.
Com o governo Michel Temer rateando, os tucanos também virando bola da vez na Lava Jato, Lula ganhou algum fôlego nas pesquisas, o suficiente para sua turma se assanhar.
A questão é se os defeitos dos adversários redimem os pecados de Lula.
Oportunistas enrolados até o pescoço na Lava Jato como José Sarney e Renan Calheiros até surfam nessa suposta onda de popularidade de Lula no Norte e no Nordeste, como apontam algumas pesquisas.
Buscam com esse jogo errático tirar mais proveito do governo Temer. Sempre fizeram isso e se deram bem. Nenhuma novidade. Embora rolasse em todos os tempos, foi o governo Sarney que consagrou o “é dando que se recebe”.
O PT também chegou a apostar em que seu processo de eleições internas para mobilizar o partido pudesse melhorar o astral no partido. Pelos cálculos de seus próprios dirigentes, a participação de militantes foi bem menor do que em 2013.
O partido continua em baixa até mesmo em sua base. Isso em um momento em que a Operação Lava Jato aperta o cerco contra Lula.
O que vazou do depoimento de Marcelo Odebrecht ao juiz Sérgio Moro, na segunda-feira (10), é devastador. Além de confirmar acusações como a de que “o amigo”, “o italiano” e o “pós-Itália” na contabilidade da propina da empreiteira são mesmo Lula, Antonio Palocci e Guido Mantega, Marcelo Odebrecht apresentou uma novidade explosiva.
Contou que, por intermédio de Brastilav Kontic, um faz-tudo de Palocci, a Odebrecht pagava uma espécie de mesada, em dinheiro vivo, para Lula. Segundo os registros nas planilhas da propina teriam sido R$ 13 milhões em 21 meses.
Tudo indica que Lula e seus homens de confiança como Palocci estão chegando ao olho do furacão da Lava Jato. Se a Odebrecht e os investigadores comprovarem essas acusações, o menor problema de Lula será eleitoral, mas, sim, na Justiça.
Há um zum–zum—zum nos bastidores da Lava Jato de que Palocci, apontado como o grande operador de esquema, também se torne delator. Se isso acontecer, a casa cai de vez.
A parceria com Lula está causando problemas até para gente que se achava fora desse imbróglio.
Como cacheiro viajante da Odebrecht na América Latina e na África, Lula arrastou grandes empresários para acompanha-lo nessas empreitadas.
Alguns estavam no esquema. Outros se dizem vítima.
Mas todos estão mira dos investigadores.
O ministro da Agricultura, Blairo Maggi, por exemplo, entrou na mira de Rodrigo Janot por aceitar convites de Lula. Foi com ele a Cuba e a Venezuela para dar dicas sobre o cultivo de grãos, especialmente de soja.
O problema é que foi a Odebrecht que pagou as despesas dessas viagens.