A condenação do ex-deputado Eduardo Cunha a 15 anos de prisão pelo juiz Sérgio Moro foi um duro choque de realidade em Brasília, nos três poderes e até na oposição.
No Congresso, disseminou o medo. Afinal, a lista de Janot, com seus inquéritos, está prestes a sair e pode incluir quase uma centena de parlamentares. Não há ainda no horizonte perspectivas de cassação de mandato para eles – afinal, eles se protegem – mas ninguém garante que, para aplacar a opinião pública, partidos e políticos poderão entregar algumas cabeças. Que, nesse caso, sem mandato, iriam diretamente para os braços de Moro.
No Planalto, a apreensão é de outra natureza. Condenado, Cunha tem menos chances ainda de obter um habeas corpus no STF ou no STJ. É previsível que sua ira e sua sede de vingança cheguem a um grau máximo, e o provável alvo de uma delação não é nenhuma novidade: Michel Temer e seus mais próximos aliados do PMDB.
Também no STF a rápida condenação de Cunha por Moro provoca certo desconforto. Afinal, serão inevitáveis as comparações e cobranças em relação às diferenças no tratamento dado aos políticos na primeira instância e na Corte suprema.
Todo mundo vai se lembrar que os amigos de Cunha citados na delação da Odebrecht sequer são ainda objeto de investigação, o que dirá denunciados e, mais ainda, condenados. A julgar pelo tempo que a lista de Janot, entregue há duas semanas, levou para chegar ao gabinete do relator Edson Facchin, é de supor que a condenação dos que virarem réus não sairá nesta década.
Os aliados do ex-presidente Luiz Inacio Lula da Silva, por sua vez, veem a rápida e dura condenação de Eduardo Cunha como um sinal amarelo. Entendem que um dos próximos poderá ser Lula. Moro vem se preparando meticulosamente para este momento, e não quis deixar pontas soltas como a de não condenar o notório Cunha antes do ex-presidente. Segundo essa avaliação, o juiz condenará o ex-presidente – nem tão rapidamente que pareça perseguição e nem tão devagar que lhe garanta uma campanha eleitoral sem essa dor-de-cabeça.