Um dos pilares da operação Lava-Jato é o amplo apoio da opinião pública. Sem ela, seria difícil imaginar tantos meliantes do erário encarcerados e outros tantos temerosos de seguirem compulsoriamente a mesma trilha.
Parte deste pilar é sustentado pelos vazamentos, alcunhados com propriedade de “seletivos”. Se alguém dispõe da informação completa e repassa parte dela, seleciona o que será divulgado.
Trata-se de uma guerra de bastidor. O objetivo é prejudicar adversários, favorecer aliados, alavancar interesses.
No mundo ideal, ou se divulga toda a investigação ou nada deveria ser vazado. Este mundo ainda não existe.
Em meio à balbúrdia, o juiz Gilmar Mendes, da Suprema Corte, insurgiu-se mais uma vez contra o Ministério Público. Disse ele, língua em riste contra os procuradores: “vazamento é eufemismo para um crime”.
De acordo com manchete do Estadão de quarta, 22, Mendes “defende” que os vazamentos são suficientes para “anulação de delações”. Anular, por óbvio, pode beneficiar larápios, que teriam indícios ou provas contra si desconsideradas, dificultando ou mesmo impedindo a punição.
Eis o dilema. Sem a publicidade, por meios formais ou informais, a Lava-Jato, a maior investigação da história contra a elite econômica e política no Brasil, corre risco de retroceder.
O País está acostumado a ver ladrões pés de chinelo mofando em masmorras por delinquências muito menos vultosas. Prisão de maganos endinheirados, que se valem da mancebia com políticos para dilapidar o patrimônio público, ainda é coisa rara.
A justiça idealmente cega prega que todos são iguais perante a lei. Na verdade, nossa história ensina que alguns são mais iguais do que outros. É uma destas duas máximas que está em jogo.