Quem sou eu para sugerir mudanças de procedimentos ao Supremo Tribunal Federal ou ao Ministério Público. Mas há algo de errado, muito errado mesmo, nos rituais, prazos e normas regimentais dessas instituições, que parecem ter parado no tempo e acabam produzindo situações injustas. Não dá nem para comentar a lentidão, clara no prazo de uma semana que a Lista de Janot versão 2.0 está levando para chegar às mãos do relator Edson Fachin.
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O que pode trazer mais danos, porém, é a sangria dos vazamentos seletivos, que continuam a pingar diariamente, apesar do sigilo legal que ainda protege a lista dos políticos citados nos depoimentos da Odebrecht. Em tese, o Ministério Público é o guardião da lei. Mas parece não hesitar em descumpri-la na hora de passar alguns nomes que interessam para a imprensa.
E aí é que está. São sempre alguns, enquanto outros são preservados. A imprensa não pode ser responsabilizada. Afinal, queremos notícia. Mas está sendo dado um benefício indireto aos políticos que estão tendo seus nomes não revelados. Por quê?
Diferentemente do vazamento do primeiro dia, fruto de uma coletiva em off – uma contradição em termos – agora cada veículo dá um time diferente. Sabemos de um lado que já serão nove ministros de Michel Temer no alvo. De outro, que Aécio Neves será objeto de seus inquéritos. De forma mais diluída, que Geraldo Alckmin, que não apareceu no primeiro momento, está, sim, entre os futuros investigados. Só que eles são mais de cem.
Ninguém tem dúvida alguma de que o nosso sistema político está caindo de podre. Na hora de reforma-lo, porém, é preciso incluir também o STF e as normas processuais elaboradas no tempo do telex e das cartas, quando ainda havia possibilidade de haver sigilo sobre alguma coisa.
A primeira atitude de Edson Facchin deveria ser a suspensão total, geral e irrestrita do sigilo da lista de Janot.