Dinheiro público para universidades é o debate por trás de confrontos da USP

Manifestação dos professores. Foto Sheyla Leal/ObritoNews

Grupo de alunos, professores e funcionários da USP tentou sem sucesso na última terça, 7, barrar a aprovação do limite para gastos com salários de pessoal da, ainda, melhor universidade brasileira. O objetivo dos Parâmetros de Sustentabilidade Econômico-Financeira é obter “equilíbrio financeiro com o adequado processo de planejamento”.

Por detrás das escaramuças que redundaram em intimidações e outras formas de violência, o debate sobre o ensino público e gratuito nas universidades brasileiras. Até aqui com as melhores cátedras, as universidades federais prosseguem redutos dos filhos da elite econômica.

Enquanto a descendência do povaréu precisa se contentar quase sempre com universidades de fachada ou faculdades de araque, os mais abastados estudam às expensas dos impostos. A defesa dessa estrutura perversa parte justamente dos que, retoricamente, combatem as elites: partidos de esquerda, PT à frente.

O argumento dessa grei se sustenta no princípio de que cabe ao Estado bancar o ensino gratuito para todos. Na prática a realidade é outra, já que dificilmente um pobre chega às melhores universidades.

Nos 13 anos em que os camaradas determinaram plenamente as regras das academias quase nada mudou. O ensino básico, universalizado na gestão do presidente Fernando Henrique Cardoso, continuou ruim.

De acréscimo, o erário bancando os estudos dos filhos do povaréu em academias menos estreladas. Não deixou de ser um avanço, mas as USPs da vida prosseguiram reduto da elite econômica.

O principal conceito por trás das querelas é o Estado onipresente. A sinistra persiste na crença de que só o Estado, dominado por ela evidentemente, é capaz de prover o bem-estar de todos. De acordo com este credo, não é possível haver boas intenções de entes privados. Como se o Estado fosse formado por seres etéreos.

Menos conceitual e mais estratégico está a necessidade de preservar nichos de “resistência”. As academias, como se sabe, são habitáculos de pensadores de esquerda.

Parêntesis: contradição, pois deveria ser espaço para o livre pensar, o livre debate e a livre manifestação. Fecha parêntesis.

Tudo parece mais surreal quando se sabe que o intuito do Conselho Universitário da USP foi o de limitar em 85% das receitas os gastos com pessoal. Registre-se que esta despesa chegou a 105% em 2016, tudo bancado pelo governo de São Paulo.

Mesmo dentro da lógica sustentada pela sinistra, como esperar que o custeio mais elementar seja bancado? Mais: como investir em pesquisa se todos os dinheiros se destinam a bancar professores e servidores?

Estudar em boas escolas e boas universidades custa caro. Se o dinheiro vem de impostos injusto moldar um sistema glosado para os desvalidos. Este é o debate.


Publicado no Blog do Moreno / O Globo.

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