O anúncio da queda do PIB em 2016, de 3,6%, somada à iminência da divulgação da delação de 77 executivos da Odebrecht indicam que o presidente Michel Temer acalenta sobretudo uma esperança. No seu “espelho retrovisor”, o mandatário busca o farol do ministro da Fazenda, Henrique Meirelles.
“Espelho retrovisor” foi a analogia que Meirelles encontrou para indicar que o tombo histórico do PIB, anunciado hoje pelo IBGE, é coisa do passado. “Já estamos passando para um segundo processo, de voltar a tomar empréstimo, financiar consumo, investimento e crescer”, disse o ministro.
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O otimismo oficial não é amplamente compartilhado. Há economistas que preveem um longo caminho de volta ao PIB positivo. E mais longo ainda rumo ao declínio do desemprego.
Mas não havia como ser diferente. Se há um brasileiro que não pode ser pessimista – ou, pelo menos, não pode transparecer pessimismo – é Henrique Meirelles. A Temer, seu chefe e fiador, resta torcer para que no retrovisor do trem que conduz, chamado Brasil, seja possível vislumbrar o farol do crescimento – e, mais importante, do emprego.
Não há outra alternativa para o mandatário. O comboio da Lava-Jato, conduzido por Sergio Moro, Edson Fachin e Rodrigo Janot, prossegue em seu encalço. Às vezes desgovernado, ele pode não abalroar em cheio o condutor da locomotiva, mas certamente atingirá muitos de seus maquinistas – tanto no ministério quanto no Parlamento.
Como Temer enveredou pelo caminho das reformas impopulares, previdência à frente, nada indica que terá trilha livre até 2018. Sem perspectivas de boas notícias na política, o presidente só pode acalentar como sonho a volta do crescimento. E só Meirelles pode fazê-lo.
Se o PIB voltar a apresentar índices positivos, restará a torcida para que o emprego volte rapidamente a serenar o ânimo dos brasileiros. Sem ele, Temer continuará buscando no retrovisor a popularidade que nunca teve.