Osmar Serraglio no Ministério da Justiça é uma incógnita até para quem bancou sua escolha. Quem aposta em sua ajuda, para um lado ou outro, pode se decepcionar.
Quando foi indicado o comando da CPMI dos Correios, que comprovou as denúncias sobre o mensalão bancado pelo governo Lula, a avaliação é de que havia sido escolhido um trio de pizzaiolos.
Vale recordar.
O presidente era Delcídio do Amaral, um executivo que, no governo Fernando Henrique, se tornou diretor da Petrobras numa barganha com o PMDB, e depois se elegeu senador pelo PT.
Após ser gravado conspirando contra a Lava Jato, Delcídio foi preso, mudou de lado, e entregou todos os parceiros na empreitada. Entre eles, Lula, Dilma e toda a cúpula do PMDB. De maneira meio torta, deu a volta por cima
O vice-presidente da CPMI era Asdrubal Bentes, um deputado que sempre foi pau para toda obra na tropa de Jader Barbalho. Em 2014, Asdrubal renunciou ao mandato parlamentar depois de ser condenado à prisão pelo Supremo Tribunal Federal.
Ano passado, ele não conseguiu se eleger vereador em Marabá, no Sudeste do Pará. Mas não ficou na chuva. Em dezembro, na cota do PMDB, foi nomeado superintendente regional do Incra em seu reduto eleitoral. É assim que a banda toca.
O relator da CPMI foi Osmar Serraglio, então um deputado pouco conhecido. A desconfiança era de que daria um parecer sob medida para livrar quem pagava e quem recebia no balcão de negócios na Câmara. Fugiu desse script.
Seu relatório escancarou o escândalo do Mensalão e serviu de base para as condenações no Supremo Tribunal Federal de José Dirceu e outros capos do esquema. Ganhou aplausos da opinião pública.
Quem compartilhou com ele delicadas decisões naqueles tensos momentos, e pede para não ser identificado, faz uma avaliação dele que, mesmo em off, merece ser ouvida.
“O Osmar é baixo perfil. Ouve com paciência quem acha que faz sua cabeça. Deixa a impressão que concorda, mas sempre decide em sintonia com a opinião pública. Com certeza, será bom para a Lava Jato. Para o governo, não sei”.
Serraglio tem cara, jeito e fama de sério. Mas, desde que chegou à presidência da Comissão de Constituição e Justiça com uma mãozinha de Eduardo Cunha, deixou uma dúvida no ar.
No cafezinho dos deputados, políticos do PMDB insinuavam que Eduardo Cunha havia ajudado na campanha eleitoral de Serraglio. E apostavam que ele iria retribuir no processo de cassação de Cunha.
Desconfianças à parte, alguns movimentos contestados, isso não ocorreu. Pisou na bola ao entrar no efeito manada que transformou o pacote de medidas do Ministério Público em um monstrengo.
O que se indaga agora é se, de alguma forma, ele vai tentar interferir na Lava Jato. Ele jura que não.
Pelo histórico, vale conferir.