A política é um terreno fértil para um amplo leque de relações. Ali se produzem simbioses espantosas.
Um misto de inveja e admiração sempre focou o olhar de José Sarney na capacidade de Lula de encantar o povão.
Depois de execrá-lo, no começo de sua carreira política, Lula também se enamorou de Sarney.
Virou fã de carteirinha de sua capacidade de se dar bem no jogo político de Brasília. Ele tem razão. Mesmo sem mandato, Sarney continua ganhando todas as bolas divididas no Senado.
Mas seu melhor desempenho nem é lá.
O que mais impressiona Lula e a todos que acompanham de perto os bastidores do poder é a performance de Sarney no Judiciário.
Desde que foi presidente da República ele teve uma dedicação especial com o Judiciário. Amigo, advogado e ex-ministro, Saulo Ramos lhe ensinou o caminho das pedras. Assim foi montada a nova composição do Judiciário após a Constituinte.
Sarney nunca descuidou da lição. Quem o acompanha de perto conta que não há sucessão nos tribunais superiores que candidatos a ministro não façam fila para pedir a sua benção.
Além de grande padrinho, é tido no meio político como acima das batalhas judiciais.
Em uma tirada famosa, Lula chegou a disser que Sarney “não é um homem comum”.
Até o juiz Sérgio Moro tropeçou na ilusão de investigá-lo.
Por decisão do ministro Teori Zavascki, Moro comandava em Curitiba a apuração de uma denúncia contra Sarney. Pesada. A acusação do ex-senador Sérgio Machado, o grande operador do PMDB na Transpetro, de que Sarney teria recebido daquela subsidiária da Petrobrás propina no valor de R$ 18,5 milhões.
Parecia o foro adequado. Como não tem mais foro privilegiado, a exemplo de Lula, a instância de Sarney na Lava Jato deveria ser Curitiba.
Nessa terça-feira (21), porém, a Segunda Turma do STF tirou a investigação sobre Sarney das mãos de Moro. Só Edson Fachin, sucessor de Teori na relatoria da Lava Jato, votou contra. Os ministros que assim decidiram têm seus motivos. Jurídicos, inclusive.
No Congresso, no entanto, a interpretação é de que Sarney venceu mais uma.
Como sempre.