Com sinais aqui e ali de um início de recuperação da economia, Michel Temer e seu entorno resolveram cobrar à vista a suposta fatura de um futuro ainda incerto.
Assim, começaram a se sentir à vontade para emplacar a pauta que mais interessa aos caciques políticos: blindar aliados e conter a Operação Lava Jato.
A forte reação nas redes sociais e na imprensa mostrou que o cacife deles é bem menor do que imaginaram.
Entenderam que, se não baixarem a bola por iniciativa própria, terão que fazê-lo por pressão das ruas.
Daí o Planalto ter movido uma peça. Foi um lance bem calculado. Os critérios para afastar do governo quem for atingido pela Lava Jato parecem bons. Porém, de pouca ou nenhuma eficácia.
Pelo contrário.
Os citados e investigados, em inquéritos abertos no Supremo Tribunal Federal, continuariam no governo. Quer dizer, a divulgação das explosivas delações da Odebrecht não seriam suficientes para derrubar ninguém.
Por essa espécie de Código Temer, só seriam afastados do governo quem for denunciado pelo procurador Rodrigo Janot, ou por seus sucessores. Entre a abertura de investigação no STF e a denúncia pelo Ministério Público o tempo não voa.
Pelo histórico da Lava Jato, são grandes as chances de investigados pela delação da Odebrechet com foro privilegiado sequer serem denunciados durante a gestão Temer.
Vamos supor que alguns casos tenham mais celeridade. O Ministério Público apressa a investigação e formaliza a denúncia. Aí, pelo Código Temer, o alvo será afastado do governo. Continua, no entanto, com salário integral e, até mais atraente, o foro privilegiado.
No critério anunciado por Temer, só será demitido quem virar réu. Pelo andar da carruagem no STF, a previsão é de que, na grande maioria dos casos, isso só ocorra em futuros governos.
Resumo da ópera: ao proclamar que não blinda ninguém contra a Lava Jato, Temer deu uma sobrevida a todos auxiliares na mira das investigações sobre corrupção nos altos escalões da República.
O azar deles é que a suposta proteção pelo Código Temer não resiste à cobrança da opinião pública.
Simples assim.