por Diogo de Oliveira*
Luís e Fernando são complementares nas suas diferenças. Já jogaram muito juntos, mas, de uns tempos pra cá, cada um joga pelo seu time. Um prefere o vermelho; o outro, o azul; mas já combinaram gravata só de brincadeira. Um quer brilhar no céu enquanto o outro gosta mais de bater suas asas. Fernando fala várias línguas; Luís só fala a língua do povo.
Nas viagens de Fernando, professor aposentado, o roteiro mais comum é um apartamento na Avenida Foch, em Paris. O outro, ex-metalúrgico, acusam de preferir um sítio de campo com pedalinhos ou um apartamento em Guarujá. O Fernando aposentou compulsoriamente aos 37, por ter sido impedido pela ditadura de continuar lecionando na USP. O Luís não dava aulas, mas foi aposentado aos 48, por ter sido preso político.
No fundo, eles se igualam. Ambos tiveram erros e acertos – mas acertaram mais. Cada um tem seus méritos e, se estudarmos os últimos 30 anos do Brasil, são os dois maiores líderes do país, sem sombra de dúvidas. Perderam o poder cada um ao seu tempo.
Anos depois disso, perderam suas esposas, respectivamente Ruth e Marisa. Uma pôde estudar e era realmente brilhante. A outra era brilhante ao seu modo, mas teve que abdicar do sonho de ser professora e especializou-se em costura, uma arte.
Hoje, seus maridos se igualam novamente, tal qual a vida toda. Choram abraçados a dor que dilacera o peito de cada um deles. O Fernando aprendeu a lidar antes com a ausência. O Luís vai começar a aprender. E nós aprendemos com Fernando e Luís o que é respeito e amor ao próximo.
* colaboração para Os Divergentes