O economista André Lara Rezende, um dos formuladores do Plano Real que acabou com o processo de hiperinflação do Brasil, saiu hoje em defesa da queda da taxas de juros do Banco Central (BC) e da política de ajuste fiscal do governo de Michel Temer.
“No Brasil, a inflação é muito pouco sensível à taxa de juros. As razões da ineficácia da política monetária são muitas e controvertidas, mas a baixa sensibilidade da inflação à taxa de juros é indiscutível, uma unanimidade”, disse Lara Rezende.
O economista faz uma análise de diversos modelos macroeconômicos para concluir que taxas de juros elevadas por períodos longos tem pouca eficácia na redução da inflação. Ao contrário, a tendência da inflação é ficar no mesmo patamar dos juros nominais. Os juros podem, sim, afetar a demanda agregada quando aplicados em períodos curtos. Chega a usar o exemplo do paciente que toma elevadas doses de remédios por longo período, sem resultado.
Lara Resende também lembra que a dívida pública em torno de 70% do PIB e os juros de 14% ao ano exigem um superávit fiscal de quase 10% do PIB para que a dívida nominal fique estável.
Para Rezende, como a economia está estagnada e a inflação perto dos 6% ao ano, é preciso um superávit fiscal primário de quase 5% da renda nacional para estabilizar a relação entre a dívida e o PIB.
“A carga tributária está perto dos 40% do PIB, alta até mesmo para países avançados, ameaça estrangular a economia e inviabilizar a retomada do crescimento. A dificuldade política para reduzir despesas é enorme. Fica assim claro que o custo fiscal da política monetária não é irrelevante”, diz em seu artigo.