Como em outros jogos, o blefe é uma arma poderosa na política. Para quem tem muito cacife e costuma se dar bem quando pagam para ver, basta desafiar para afugentar adversários.
Foi assim que, por mais de uma década, o PT apostou e colheu vitórias. Usou e abusou dessa estratégia até aonde se lambuzou. Os fatos são conhecidos. No auge do escândalo do Mensalão, com a investigação em seu calcanhar, Lula ameaçou convocar as ruas para defendê-lo. Os tucanos não pagaram para ver.
Em pleno assalto aos cofres da Petrobras, na campanha eleitoral de 2006, os marqueteiros venderam a ilusão de que só Lula salvaria nossa maior empresa estatal do diabólico plano tucano para destruí-la. Os tucanos morderam a isca e perderam as eleições.
A fórmula foi repetida nas campanhas de Dilma nas eleições seguintes. A dose exagerada em 2014 virou estelionato eleitoral.
Os blefes petistas perderam a eficácia na derrocada de Dilma. Pediram apoio das ruas contra o impeachment, receberam rejeição. Inventaram um discurso eleitoral sobre um suposto golpe, não colou e tomaram uma tunda nas urnas.
O petismo entrou em crise. Algumas lideranças pregam uma reinvenção do partido. Mesmo entre elas o que mais se avalia é quando e como pular fora do barco. Metade da bancada na Câmara fareja qual rumo tomar.
Poucos acreditam que a turma que controla a máquina partidária vá abrir mão do poder interno, o único que lhes resta, mesmo que seja a derradeira saída do partido.
Com toda essa falta de perspectiva, sobrou ao PT a carta de sempre: Lula. Na receita habitual da cúpula petista, Lula é uma espécie de genérico da antiga “Pomada Maravilha”. Serve para curar dores de cabeça, do fígado, dos rins, perebas, luxações…
Para a cura dos males variados que o acometem, petistas plantam aqui e ali que, em 2017, Lula assumirá o comando do partido e evitará seu racha. Mais: se lança como candidato ao Planalto, em uma ação para neutralizar qualquer ofensiva da Justiça contra ele. Dizem apostar na eficácia desses dois movimentos. Apresentam até pesquisas, como a encomendada pela CUT, em que Lula tem pelo menos o dobro de intenção de voto de seus principais adversários.
Menos que blefe, pura balela. Meras flores do recesso.
Em narrativas de investigações judiciais em português, inglês, espanhol, francês, entre outras línguas, Lula está nas cordas, apontado como lobista da Odebrecht e de outras empreiteiras.
Há alguma perspectiva de ele virar esse jogo? Pelo contrário. Fontes da Operação Lava Jato informam que, nas delações premiadas, o clã Odebrecht e seus executivos descrevem, com minúcias e provas, sua ajuda a negócios no Brasil e no exterior, e entregam como Lula, parentes e aliados foram regiamente recompensados.
Fim de linha.