O presidente Michel Temer está otimista com a recuperação da economia. Se o sentimento presidencial for genuíno, pode se tornar uma alavanca para contornar o horizonte tormentoso no qual o Brasil navega há dois anos. Afinal, antes dos demais brasileiros, cabe a ele acreditar no futuro.
Consequência dos desmandos e invencionices da má humorada presidente Dilma Rousseff, o País afundou numa crise sem precedentes. Falta de emprego, carestia e roubalheira descarada dos próceres do poder, deslindadas pela Operação Lava-Jato, redundaram em pessimismo coletivo.
O pessimismo virou desesperança, péssima conselheira de crises e estimuladora de ações impensadas. Quanto menos se tem a perder, mais riscos se aceita correr.
Inexata, a economia postula certos paradigmas mais ou menos consensuais, mas depende sobremaneira das expectativas. Assim como acreditamos que os banqueiros vão devolver o dinheiro que lhes confiamos a guarda, é preciso crer que um dia o emprego desejado virá; ou que não se perderá o que tem.
Crença difícil, pois uma turbulência tão prolongada estiola as expectativas. Da ausência de perspectiva, brota o desalento.
Temer é um arguto articulador, mas não é um líder de massas. Luiz Inácio da Silva, o Lula, escafedeu-se de vários reveses porque sabia articular e tinha capacidade ímpar de motivar. Foi o que salvou o Brasil em 2008, após a quebradeira financeira dos EUA que se espraiou mundo afora.
Noves fora os imponderáveis da Lava-Jato e do TSE, cabe a Temer convencer os brasileiros que ele sabe como sair da crise e que o Brasil tem rumo. Por “sair da crise” entenda-se controlar a inflação e gerar empregos. Por “ter rumo”, que o presidente conheça o receituário.
Temer, o pregador
Em entrevista ao jornalista Valdo Cruz, publicada pela Folha desta terça, 27, o presidente avaliou o humor nacional. Segundo ele, “as pessoas cansaram um pouco do pessimismo” e estão “desejosas de um novo tempo”.
Provavelmente acertou no diagnóstico, já que pessimismo renitente deixa de ser cautela e passa a ser patologia. Ocorre que há sobejas razões para o sentimento de desesperança. Ou, ainda, não há estímulo para alento imediato.
“Eu vivo pregando o otimismo, a pacificação, a serenidade”, completou o mandatário. Se “vive pregando”, talvez lhe falte vivacidade no discurso e tenacidade na execução. Convencer os brasileiros – pelo menos, os que querem ser convencidos – de que há luz no fim do túnel. E que o fim – do túnel – está logo ali, em algum lugar de 2017.
Para tanto, Temer pode se valer dos conselhos do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso. O tucano, talvez resignado com sua aposentadoria para cargos eletivos, não enfeita suas análises.
Antes de comparar, com enorme propriedade, o governo Temer a uma pinguela, FHC sugeriu ao presidente-tampão que “fale, explique, convença”. A verve presidencial, dentre outros mimos, tem sido suficiente para garantir a pacificação dos parlamentares, que aprovam quase toda pauta temerista.
Mas e as ruas? Primeiro, é preciso encarar que elas o desaprovam maciçamente. Segundo, buscar aqueles que, prostrados com o desalento, anseiam ancorar em porto seguro e desembarcar da crise encanzinada.
Enquanto o emprego não vem, restaria a expectativa positiva como lenitivo ao pessimismo arraigado. A reversão do desemprego viria como a alavanca mestra, indispensável para desanuviar o cenário nebuloso, embaciado pela descrença em tempos melhores.