O crédito, um dos instrumentos poderosos de alavancagem do consumo que poderia contribuir com a retomada do crescimento econômico, atingiu níveis comprometedores, semelhantes ao endividamento público.
Com o estímulo à concessão de crédito pelos bancos públicos e privados nos últimos dez anos, houve um aumento de 40% no comprometimento da renda das famílias com o serviço da dívida – juros e amortizações. Em março de 2005, as famílias destinavam 15,8% de sua renda ao pagamento de crédito. Em setembro último este percentual subiu para 22,2%.
Estudo feito pelo economista Estevão Xavier Bastos, do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA), constatou que houve uma espécie de bolha de crédito crescendo em média 3% ao ano acima do Produto Interno Bruto (PIB) nos últimos anos. O saldo do crédito passou de 30% do PIB em 2007 para até 54,5% no fim de 2015. Ao longo de 2016, com o segundo ano de recessão, caiu para 50,3% do PIB.
“Se por um lado esse crescimento em ritmo superior ao do PIB era possível e até desejável pelo nível inicial baixo do saldo total de crédito, aparentemente o crescimento foi excessivamente rápido. As famílias, agora com altos encargos financeiros decorrentes do endividamento acumulado, têm pouco espaço para tomar novas dívidas”, diz Estevão Xavier Bastos.
Cabe observar que a inadimplência de pessoas físicas não tem crescido e o nível registrado em outubro último, 4,2%, é o mesmo de um ano antes. Já a inadimplência das empresas aumentou de 1,9%, em dezembro de 2014, para 3,6% em outubro de 2016. Um dos poucos sinais positivos é que, em outubro, o saldo total de crédito caiu 9,1% em relação a outubro do ano passado, menos do que os 9,4% de setembro.