Como disse aqui Helena Chagas, a Câmara está de ressaca pela tunda das redes sociais e das ruas por transformar o pacote anticorrupção em um monstrengo. O efeito no Senado das manifestações, que tiveram Renan Calheiros como alvo principal, parece ser a opção pelo bom e velho provérbio português: Cautela e caldo de galinha não fazem mal a ninguém.
Tudo indica que será adiada a votação do projeto sobre abuso de autoridade, uma ideia em tese até razoável, mas usada por Renan como represália ao cerco que sofre da Justiça em variadas investigações, em especial na Operação Lava Jato. Ninguém está acima da lei, mas juízes e procuradores não podem ser punidos pelo exercício de sua profissão.
Até o boquirroto Roberto Requião deu uma amenizada em seu relatório. Não parece suficiente, porque não fecha totalmente a porteira para a punição de juízes por suas sentenças.
Se a votação for mantida, o que é improvável, alguns partidos vão optar pela emenda apresentada pelo próprio juiz Sérgio Moro, rejeitada por Requião. Ele diz que acatou parte da proposta, mas de maneira malandra. Tirou com uma mão e repôs com a outra. O próprio Sérgio Moro já se opôs ao remendo de Requião.
Com seu estilo desbocado de ser expressar, Requião xingou Moro e chamou seus colegas senadores, que estão conversando com juízes e procuradores, de canalhas. Pisou na bola. Essas conversas estão sendo promovidas com o aval do governo.
Resumo da ópera, se a votação do projeto não for adiada, ele será desfigurado pelo plenário. O viés na Câmara da desfiguração das medidas propostas pelo Ministério Público foi o da impunidade. O viés no Senado da desfiguração do projeto sobre abuso da autoridade, patrocinado por Renan Calheiros, será garantir a continuidade das investigações. Ainda bem.