Formalmente, Moreira Franco é o secretário do Programa de Parcerias de Investimento (PPI). Na prática é um dos dois mosqueteiros do presidente Michel Temer. O terceiro, Geddel Vieira Lima, foi defenestrado ao transformar o Palácio do Planalto numa imobiliária.
Em entrevista ao Valor Econômico publicada nesta quinta, 1º, o secretário fez uma constatação importante (se levada a sério) e contou uma fábula. De quebra, foi realista ao reconhecer que o desemprego vai aumentar.
“Não tem condições de afrontar a opinião pública”, enfatizou. Reconheceu o peso da população ao dizer que “quando [ela] vai às ruas, e sem violência, muda o rumo das coisas”.
Acertou o mosqueteiro. Se for verdade, o governo tem rumo. Michel Temer deu sinais de que sabe ouvir ao declarar solenemente que iria vetar a anistia de crimes cometidos por parlamentares.
Mas, se realmente não quiser afrontar, deve estar pronto para se livrar de uma porção de apoiadores. Caso a Operação Lava-Jato prossiga sua varredura, é provável que muitos aliados caiam na rede do juiz Sergio Moro.
O PMDB também é responsável
Na mesma entrevista, Moreira Franco disse que “todos sabemos como o presidente Temer recebeu o país”. Segundo ele, “o governo passado gastou muito mais do que arrecadava e promoveu uma desorganização nas contas públicas”.
Fábula. Não a barafunda que o governo de Dilma Rousseff legou ao Brasil. Esta é realíssima. Falsa é a narrativa sobre o “governo passado”.
Não existira “governo passado” sem o PMDB de Moreira e Temer. O maior partido brasileiro foi alicerce dos 13 anos do PT à frente da presidência da República. Para o bem e para o mal.
Temer foi imprescindível. Na última convenção que referendou a chapa PT-PMDB, o atual mandatário enfrentou boa parte de seus correligionários para garantir a continuidade da aliança.
Além disso, o PMDB não era obrigado a compactuar com os desvarios da presidente deposta, que jogou o País na maior crise da história. Em vez disso, compactuou inclusive com os malfeitos que já levaram dezenas de meliantes do erário aos cárceres de Curitiba.
O PMDB só abandonou o barco quando ele estava afundando. Assim, garantir a “volta do crescimento”, como pregou o secretário, é consertar o próprio estrago.
Na entrevista, o secretário afirma ainda que não há “risco” de Temer cair. Bem, se precisa responder à pergunta a queda é uma possibilidade real. Aves agourentas já sobrevoam o Planalto.