Em casas cubanas de gente comum chamava a atenção imagens religiosas ao lado de fotos de Fidel Castro. Havia ali algo mais do que o sincretismo baiano. Orixás e santos compunham pequenos altares com Fidel.
Era julho de 1985. O Brasil saindo da ditadura, Cuba liderando a bandeira comum a toda a América Latina contra o sufoco de todos os países com a dívida externa.
Como outras delegações, a brasileira era bem eclética. Do PT até ao PFL passando por todas as correntes de esquerda. Os cubanos acharam uma fórmula de atender a todos. Testaram com jornalistas, aperfeiçoaram com sindicalistas, e a consagraram com forças políticas, até antagônicas.
Com a sacada de a conjunção ‘ou` virar a saída para as intermináveis discussões sobre o que fazer com a dívida externa, os cubanos acharam um jeito de conseguir um consenso impossível nos países de cada um.
Deu certo. Estava lá desde a reunião dos sindicalistas, me convidaram para ficar. Além de sindicalista, jornalista, eu era militante do Partido Comunista Brasileiro.
Me pediram para resolver um problema. Em pleno racha do PCB, conseguir a assinatura de dois ícones comunistas. Foi menos difícil que o previsto.
Conversei com Giocondo Dias, então secretário-geral do PCB, um dos dirigentes do partido mais doces que conheci. Ele não titubeou.
Fui então pedir a assinatura de Luiz Carlos Prestes, um deus na vida de quem teve o comunismo como referência.
Cheguei falando sobre meu pai, companheiro dele no Comitê Central do PCB, e disse que o manifesto era amplo e atendia a todas as forças progressistas.
Luiz Carlos Prestes me ouviu, nada falou, e assinou o manifesto.
Encantado, levei o papel para Giocondo Dias, que o assinou com a maior satisfação. Se disse feliz. Grande Giocondo.
Naquela tarde, Prestes, Giocondo e todos outros que ali estavam se comoveram com Fidel dando uma aula de como a vida poderia ser diferente, e melhor, para os países pobres se fosse contida a ganância do sistema financeiro internacional. Em sua longa fala, Fidel demonstrou respeito a todos lideres de todos os países, e o encantamento com Lula.
Luiz Carlos Prestes e Fidel Castro Ruiz são o melhor retrato de revoluções no Século XX na América Latina. Não só para militantes, viraram santos. Outros os condenam. Pelo tamanho que adquiriram, a história os julgará.