O puxão de orelha da ministra Cármen Lúcia em Renan Calheiros é uma mostra de que as diversas frentes de ação no Congresso contra a Operação Lava Jato e outras investigações vão enfrentar forte reação.
É até compreensível que Renan peça ao Supremo Tribunal Federal para decidir quem pode ou não, nas instâncias judiciais, arbitrar alguma ação policial no Senado Federal. Faz parte do jogo. Mesmo que isso signifique que servidores do Senado ganhem, de bandeja, uma espécie de foro privilegiado, se puderem justificar que, de alguma forma, estavam a serviço de senadores.
Escapam, assim, dos “juizecos” de primeiro grau, acionados por “métodos fascistas” da Polícia Federal. Como se não bastassem privilégios que dificultam a apuração e o julgamento de quem tem o tal foro privilegiado, independente do crime que cometam, o benefício pode ser estendido a seus operadores e apaniguados.
O impressionante é que os três poderes da República estão sendo acionados para proteger uma casta de autoridades e de seus servidores de confiança que se acham acima da lei.
Em vez de acabar com o foro privilegiado, um absurdo quando se trata de crime comum, Renan e sua turma querem estendê-lo para funcionários que não receberam voto algum. É mais um dos três retrocessos que os investigados da Lava Jato querem aprovar para saírem impunes das apurações judiciais.
Além dessa extensão da inviolabilidade em tempo, espaço e hierarquia, querem anistia para o passado e o presente. A ideia é aprovar alguma punição ao caixa 2, com a ressalva de que só vai valer daqui para a frente. Passa-se, assim, uma borracha nas investigações sobre quem embolsou ou recebeu dinheiro sujo em campanhas eleitorais.
Para completar a tríplice vitória, além do passado e do presente, busca-se também uma espécie de anistia preventiva para o futuro. O projeto de Renan para coibir abusos de autoridades visa assustar, dificultar ou proibir investigações sobre uma casta de privilegiados com poder de questionar qualquer apuração na Justiça.
Tudo junto e misturado, o resultado é o seguinte: em um figurino algo diferente, políticos, empresários e todos que até recentemente se beneficiaram de uma justiça ineficiente para ficarem impunes, encontraram um novo caminho para manter tudo igual.
Não há dúvida de que os investigados de todos os naipes têm os votos necessários no Congresso para aprovar tudo isso. Até agora não conseguiram por causa da reação da opinião pública. Eles prometem voltar com tudo depois do segundo turno das eleições municipais. A conferir.