O fuso horário é um complicador entre quem está no Brasil e no Japão. Michel Temer foi surpreendido, ao sair do hotel em que se hospedou, com aplausos generalizados dos empregados. Inclusive dos cozinheiros, em uma bela demonstração da boa e velha educação japonesa.
O ministro Blairo Maggi, que gosta de fazer registros de suas viagens, gravou a simpática despedida de Temer. Assista ao vídeo.
O problema é que esse curto momento de glória de Temer no outro lado do mundo foi seguido do lado de cá do planeta pela prisão de Eduardo Cunha, por determinação do juiz Sérgio Moro. Há anos, Cunha é um forte aliado de Temer.
Vale recordar um episódio: em 2010, Lula queria emplacar como vice de Dilma Henrique Meirelles, que até se filiou ao PMDB. O partido balançou. Quem articulou nos bastidores a exigência de que o candidato fosse Michel Temer foi Eduardo Cunha. Cunha ganhou ali pontos que o ajudaram em sua meteórica ascensão ao poder na Câmara dos Deputados.
Quando Eduardo Cunha começou a se afundar, tentou escapar com a ajuda de Michel Temer. Em julho de 2015, quando percebeu que o procurador-geral da República, Rodrigo Janot, estava apertando o cerco, Cunha foi até a base aérea informar Temer que iria romper com o governo Dilma e cobrar seu apoio.
Tendo Renan Calheiros como testemunha, Temer não cedeu. Nem se abalou quando Cunha disse que uma eventual delação premiada de Jorge Zelada, ex-diretor Internacional da Petrobras, poderia compromete-lo. O tom era de ameaça. Temer disse que não tinha nada a temer.
Eduardo Cunha finalmente foi preso. Os procuradores da República vão ter com ele um rigor muito maior do que tiveram com outros candidatos à delação premiada. Para eles, é questão de honra que, por mais que entregue, também receba uma punição exemplar.
Pelo que se sabe, o horizonte de Eduardo Cunha para apresentar novidades é bastante limitado. Os investigadores já sabem muito. Daí a expectativa de que ele ponha uma grande carta na mesa, se a tiver. Se tiver munição contra os ministros palacianos, não será o suficiente. Se partir contra Michel Temer, não valerá apenas sua palavra. Terá que apresentar indícios consistentes. A dúvida é se os têm.
Cunha sempre foi um craque em blefe. Agora, se não quiser perder tudo, terá que mostrar o jogo. E ter excelentes cartas.