Segunda parte
(…continuação)
as te peço pelas razões onde estão para aonde irão mataste-me era 36
ressuscita-me sou Poeta ou porque sou Bardo mataste-me em 36
sobrevivi a tua morte matada cá estou vívido na Flor de Lácio não morri
em 36 não morri não mataste-me resulta-me gosto do Bragança da
Alecrim da Santa Catarina e do Tejo mas não apetece o Prazeres salva-me
dos coscuvilheiros salva-me das águas turvas e dos labirintos sombrios
faz-me ortônimo mataste-me ressuscita-me quero Lídia em meus braços
em catre escolhida talvez Marcenda quero-me onde se acaba o mar
d’antes navegado lá está a terra não morri em 36 não tenho prazeres para
o Prazeres não morrerei jamais tira-me do bico desse corvo tira-me do
peido mestre tira-me do inferno dantesco onde está o Tarrafal? onde está
prestes? o que fazem no estrangeiro? estrangeiro dize-me fala a ti de
rastros postos e na coragem na viagem da noite alta deixamo-los no
dialogo profundo das existências eu Back e Ruy em viagem no elefante
pequenas memórias de Caim bagagens dos viajantes para trás
delicadamente repousados às prateleiras a esperar os mais ávidos legentes
já não chove e vamos a descer pela Garrett em direção às nossas
existências cada qual em seu caminho eu com meu chapéu de chuva azul
guardado atacadores afroixados e não desatados atravesso a passadeira
vejo Adamastor e a Figueira e se uma gaivota viesse? paira um cheiro de
alecrim Lavra Glória Bica Baixa Alto Santa Justa Santa Maria Maior santa
ignorância ai Mouraria Chiado Jerónimos São Jorge, Salve Jorge
memorialista Alfama uma viagem à Portucale cantarolo Chutos &
Pontapés Mafalda Zambujo, Moura e Abrunhosa eu preciso de mais
preciso de mais embarca em mim tenho pressa tenho a ti que lavas no rio
apanho o elétrico sete na paragem estou no ascensor da Bica quase em
meu T3 para já ficam as lembranças para si em algures ficará se calhar
além’ar dá cá um abraço ó musa do meu fado na morte a cegueira é igual
para todos…
* do livro “Todos os Saramagos” – Páginas Editora