Preso ao desembarcar no aeroporto internacional Juscelino Kubitschek, na manhã do último sábado, o ex-ministro da Justiça do governo Bolsonaro, Anderson Torres, é peça fundamental para que se esclareça quem participou da elaboração do decreto que previa instauração de estado de defesa na sede do TSE para que o resultado das eleições fosse modificado, o chamado ‘decreto do golpe’.
A minuta encontrada na casa de Anderson Torres pela Polícia Federal revela a existência de um plano bem articulado para melar a eleição de Lula e garantir a permanência de Bolsonaro no poder. Não são poucas as explicações que o ex-ministro terá de dar à Justiça. Se resolver falar, poderá dar nomes aos bois, ou melhor, aos donos da boiada.
Mas os problemas de Torres não se resumem ao texto da minuta do golpe encontrado em sua casa. O ex-secretário de Segurança do DF também está sendo investigado pela omissão e conivência com os atos terroristas que ocorreram domingo passado, dia 8, que resultaram na invasão e destruição de parte dos prédios do Congresso Nacional, do Palácio do Planalto e da Suprema Corte.
As investigações levam em conta as suspeitas de que o ex-secretário de segurança do DF teria exonerado uma série de servidores responsáveis pelo comando da Secretaria de Segurança. Para o interventor da Segurança Pública do DF, Ricardo Cappelli, houve desmonte do comando da secretaria de Segurança Pública promovido por Torres e que a viagem de Torres para os Estados Unidos não foi por acaso.
O governador afastado do DF, Ibaneis Rocha, complicou ainda mais a vida do seu ex-auxiliar ao afirmar, em depoimento à Polícia Federal na última sexta-feira (13), que houve “sabotagem” no planejamento de segurança para o 8 de janeiro. Ibaneis mostrou que não está disposto a se sacrificar para salvar a pele de ninguém.
Não é a primeira vez que o ex-ministro enfrenta complicações com a Justiça. Para quem não sabe ou não lembra, em maio de 2011 o jornalista Andrei Meireles revelou, em reportagem publicada pela revista Época (leia aqui), o envolvimento de Anderson Torres num escabroso caso de sequestro e tortura de dois rapazes.
A denúncia foi apresentada pelo Ministério Público Federal. Durante as investigações, Torres ficou afastado das suas funções como delegado da Polícia Federal. Como tudo no Brasil acaba em pizza, anos depois retornou ao cargo por determinação judicial.
Desta vez a situação é bem mais complicada. O envolvimento de Anderson Torres nos atos golpistas está muito escancarado, será difícil se safar, como aconteceu no caso de sequestro e tortura. Segundo juristas, o ex-ministro da Justiça de Bolsonaro poderá pegar até 91 anos de prisão. Não é coisa pouca.
Resta saber se morrerá sozinho ou se levará para a cova alguns ex-companheiros de governo. O jornalista Guilherme Amado, do portal Metrópoles, publicou uma nota afirmando que Anderson Torres “tem espalhado que Jair Bolsonaro não o procurou após ter se tornado alvo do STF”
Ele teria se queixado a amigos próximos, que não recebeu nenhuma ligação de solidariedade do ex-chefe e nem do deputado Eduardo Bolsonaro, de quem é amigo pessoal.
A falta de solidariedade é uma característica da família Bolsonaro. Que o diga o ex-deputado Roberto Jefferson e a ex-ativista Sara Winter, abandonados após serem presos.
Fala, Torres! Será um favor ao Brasil.