Decisões do STF e Congresso põem Lula na cara do gol. É não errar

Após a mãozinha do STF, Lula emplaca acordo com o Centrão que lhe permite começar bem o governo. A questão é se vai com uma frente ampla ou arriscar mais uma vez só com o PT

Lula - Foto Ricardo Stuckert
Arthur Lira e Eduardo Cunha – Foto Orlando Brito

Havia pela frente uma penca de obstáculos. O maior deles era trupe de Arthur Lira na Câmara, acostumada a impor derrotas a Bolsonaro, que tentou repetir a proeza com o novo governo Lula, tido como nas cordas pela necessidade da aprovação da PEC da transição. Quanto mais o tempo escorria, maior a gula e as exigências dessa galera parlamentar herdeira de Eduardo Cunha.

Arthur Lira estava tão certo da vitória que, na conversa com Lula no domingo, chegou a mostrar a mesma arrogância que assustou o covarde Jair Bolsonaro. Saiu da conversa em um hotel na zona central de Brasília convencido de que faria barba, cabelo e bigode, mantendo e até ampliando o poder conquistado na gestão Bolsonaro. Errou na mão.

Quis dar um passo maior que a perna. Já tinha assegurado apoio suficiente para se reeleger presidente da Câmara. Avaliou que Lula acuado cederia também os nacos de poder que hoje desfrutam no governo federal que têm muita grana e geram escândalos pelo mau uso do dinheiro público. Lula já pagou um preço alto por arranjos semelhantes em governos anteriores.

Ministros Ricardo Lewandowski e Gilmar Mendes antes do início da sessão plenária do STF – Foto Carlos Moura/SCO/STF

Em questão de horas, Lira tomou um baile que até agora não entendeu o tamanho do tombo. Uma tabelinha entre os ministros do STF Gilmar Mendes e Ricardo Lewandowski tirou os curingas das mãos da turma de Lira, enterrando o Orçamento Secreto e abrindo brecha para a adoção do reajuste do Bolsa Família por uma canetada presidencial.

Orçamento Secreto – Foto Reprodução

Essa reviravolta proporcionou que nessa terça-feira (20) fosse feito um acordo que assegurasse para 2023 toda a grana pedida pela equipe de transição de Lula e mais metade dos R$19,4 bilhões antes destinados ao malfadado Orçamento Secreto. É uma montanha de dinheiro para o novo governo, que se souber gastar, pode começar a botar a casa em ordem.

A questão agora é como o novo governo vai gastar esse cacife. O primeiro teste é a montagem da equipe ministerial. Até agora o PT vem nadando de braçada, inclusive nas bolas divididas. Com exceção de Flávio Dino na Justiça, todos os outros são puro sangue. A expectativa é que a partir dessa quarta-feira (21) o apetite do PT seja contido e aliados importantes para a vitória eleitoral e a governabilidade comecem a integrar a equipe em postos com relevância.

Simone Tebet e Marina Silva – Foto Reprodução

A senadora Simone Tebet, Marina Silva, economistas de variadas tendências que deram aval a eleição de Lula, entre outras forças de centro e de esquerda, são caras necessárias para caracterizar um governo de frente ampla. Não basta apenas comporem a paisagem ministerial. Precisam compartilhar das decisões.

 

Com a aprovação da PEC da Transição, que ficou de bom tamanho para todos os lados, a primeira vitória a comemorar foi a redução da suposta letalidade de Arhur Lira, que teve de tirar a faca do pescoço do novo governo, embora siga poderoso. Mas abre-se, assim, a possibilidade de negociações entre os poderes da República, com a participação de novos atores, que reduzam a promiscuidade e a corrupção. É o mínimo, né.

A conferir.

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