Hora de um basta em Lira. Lula se impõe ou encara novo escândalo

A turma que apostou em Bolsonaro e perdeu nas urnas quer reverter a derrota nas ruas, quartéis, tapetão ou, sobretudo, em barganhas políticas. Ofertam apoio como uma simples troca de camisa

Arthur Lira e Lula - Foto Reprodução/CNN Brasil

Em outros tempos, um presidente eleito recebia um aval de 100 dias pra mostrar a que veio. Era uma trégua meio consensual no mundo político. Alguns aproveitaram, outros desperdiçaram. Nessa sucessão presidencial não tem regras de convivência nem antes da posse.

Bolsonaristas queimam carros e tentam invadir sede da PF em Brasília – Foto Reprodução

Os derrotados bolsonaristas seguem pregando um virada de mesa nas redes sociais, na porta de quartéis e em articulações e manifestações de suas bancadas parlamentares. Essas contestações, inéditas desde a redemocratização do país, transformam a transição em um vale tudo. Não só pela ousadia da galera que paralisa rodovias, queimas carros, ataca delegacias e a sede da Polícia Federal e, no que é mais insólito, sem ser reprimida.

José Múcio futuro ministro da Defesa do governo Lula- Foto ABr

 

O mais grave é como acuam o governo eleito pelas urnas. Lula teve que antecipar a escolha do ministro da Defesa, José Múcio Monteiro, e dos comandantes militares. Já até se reuniu com eles, antes mesmo de sequer anunciar um único nome para a área social, seu principal cacife eleitoral.

Fora da casinha da transição, foi com Arthur Lira que Lula mais conversou. A cada papo, uma concessão. A primeira foi a entrega de mão beijada do apoio do PT e aliados à reeleição de Lira para a Presidência da Câmara. Lula entendeu como uma quitação no que Lira interpretou como apenas um sinal para o pagamento de uma conta bem mais salgada.

Nas novas conversas, Lira parte do pressuposto de que sua reeleição já foi precificada. Pôs o tal orçamento secreto na mesa de negociação, e sente que saiu vitorioso com a nova versão pra engabelar o Supremo Tribunal Federal em que mantem nada menos que R$ 1,5 bilhão pra contemplar aliados.

Como Lula parece ter caído em um armadilha do Centrão, que a cada dia aumenta o preço, novas cobranças entram em pauta. A mais descarada é o Ministério da Saúde, em que o PP de Lira aprontou todas e mais algumas. O deputado Ricardo Barros, líder do governo Bolsonaro, manda e desmanda em áreas que protagonizaram escândalos como a propina para compra de vacina. É um escárnio.

Flávio, Jair, Eduardo e Carlos Bolsonaro – Foto Reprodução voaportugues.com

Mas tem mais. Jair Bolsonaro segue entocado no Palácio da Alvorada em busca de saídas pra livrar a si mesmo e a seu clã da cadeia pelos múltiplos crimes cometidos. Foi numa dessas alucinadas tertúlias que surgiu a proposta de criar um cargo de senador vitalício com imunidade, salário e direito a voz no Senado, para ex-presidentes da República.

Como FHC e Sarney não querem nem ouvir falar disso, sobram Bolsonaro e Fernando Collor, dois alvos judiciais agora sem foro privilegiado, que podem ir pra cadeia. São esses jabutis que querem atrelar à aprovação da PEC da Transição.

Ou Lula tira a faca do seu pescoço antes mesmo de tomar posse ou vai governar como um refém dessa turma sem nenhum limite. Como filme já visto e reprisado, vai dar em novo escândalo. Lula não tem como esperar. Ou barra agora essa chantagem ou paga a conta mais adiante.

A conferir.

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