O atirador Bob Jefferson erra mira e atinge parquinho bélico de Bolsonaro

Se o objetivo era peitar o STF e o TSE para amplificar a campanha de Bolsonaro contra a Justiça na reta final da campanha eleitoral, os tiros verbais e de fuzil, além da granada, saíram pela culatra

Roberto Jerfferson, ainda preso

O projeto de Roberto Jefferson foi lançar a candidatura à reeleição de Jair Bolsonaro por seu PTB. Não conseguiu. O Centrão vetou. Ele então, mesmo com tornozeleira eletrônica e em prisão domiciliar, anunciou sua própria candidatura presidencial com o propósito declarado de linha auxiliar mais agressiva de Bolsonaro. Mas sabia que era fake.

Padre Kelmon – Foto Reprodução

Jefferson tem condenação transitada em julgado, sem nenhuma controvérsia na Lei de Ficha Limpa. Por isso, ele inventou e escalou o tal padre Kelmon como vice com a tarefa de ajudar Bolsonaro quando assumisse a titularidade. Sua melhor serventia foi no debate presidencial na Globo no primeiro turno. Agradou tanto que até hoje segue sendo homenageado pelo clã Bolsonaro. Na semana passada, o parabéns por seu aniversário foi puxado pelo dueto entre Michelle Bolsonaro e Damares Alves.

Ministra Cármen Lúcia – Foto Orlando Brito

Na sexta-feira (21), enquanto seu chefe Roberto Jefferson disparava um vídeo baixo nível contra a ministra do STF Cármen Lúcia, padre Kelmon tinha papel destacado em ato de campanha com Bolsonaro em Guarulhos. Dois dias depois o tal padre sai da casa de Jefferson, cercada pela Federal e PM, com o fuzil que seu mentor usou horas antes para atirar nos federais, em quem também lançou nada menos que granadas.

Nesse domingo, tudo que Bolsonaro queria era tirar sua mão do fogo. O desespero lhe foi mau conselheiro. Enviou seu ministro da Justiça, delegado Anderson Torres, pro Rio de Janeiro pra tomar as providências necessárias. Pau para toda obra, o ministro Anderson Torres explicou sua missão pelo Twitter: “Momento de tensão, que deve ser conduzido com muito cuidado. Ministério da Justiça está todo empenhado em apaziguar essa crise, com brevidade, e da melhor forma possível”. Já aí meteu o bedelho onde não devia. A ordem era do STF e a PF cumpria o mandado como polícia judiciária.

Presidente Jair Bolsonaro e o ministro Anderson Torres – Foto Orlando Brito

Aliados de Jefferson diziam que ele estava esperando a chegada do ministro da Justiça para se entregar. Pegou tão mal na Justiça e na Polícia Federal que o ministro nem deu as caras. Mesmo assim, indevidamente, ganhou os méritos, não pela anunciada pacificação, mas, pasmem, pela prisão de Roberto Jefferson.

Logo após a prisão, em novo vídeo, na maior cara de pau, Bolsonaro fez o anúncio: “Como determinei ao ministro da Justiça, Anderson Torres, Roberto Jefferson acaba de ser preso. O tratamento a quem atira em policiais é o de bandido. Presto minha solidariedade aos policiais feridos no episódio”. Que mentira mais descarada. Só quem tem poder de mandar prender é a Justiça.

Bolsonaro e sua trupe se desarvoraram quando um de seus grandes aliados pôs em prática a sua desvairada pregação de uso de armas e de desobediência de ordens judiciais. O pior para Bolsonaro é que foi contra a própria polícia que estava cumprindo ordem judicial, e diferente do que ele mesmo prega, apesar de um delegado e uma agente da PF terem sido feridos, não reagiu.

Roberto Jefferson parece ter errado a mira no STF e seus tiros acabaram acertando pelo menos o pé de Bolsonaro. A pregação armamentista do presidente e suas justificativas para a matança policial em favelas e bairros pobres viraram pó. Isso vai ter impacto na reta final da campanha eleitoral?

A conferir.

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