Por melhor que tenha se preparado e se armado, a Justiça Eleitoral não consegue a eficácia necessária em seu arsenal para conter golpes baixos e crimes eleitorais em profusão. O pior é que segue sem conseguir reagir ao uso ilegal da máquina pública no mais escancarado estelionato eleitoral desde a redemocratização do país. O governo Bolsonaro conseguiu a proeza de atropelar leis e controles públicos e superar uma penca de precedentes graves.
Tudo às claras. Já tinha feito isso no primeiro turno. Agora, na reta final das eleições, em nova trapaça, abriu de novo os cofres públicos e distribuiu dinheiro sem nenhuma previsão orçamentária ou legal para tentar reverter a preferência do eleitorado mais pobre por seu adversário Lula. Por essa sequência, Bolsonaro merecia cartão amarelo no primeiro turno e vermelho no segundo em todo e qualquer VAR eleitoral não intimidado. Mandou leis às favas e segue impune.
Seus defensores dizem que ele não inventou a roda. Seguiu a toada de eleições passadas. Eles têm razão. Quem está no poder sempre quis tirar vantagem disso. A diferença em nossa história desde a redemocratização é que, pelo menos no plano federal, esses estelionatos tiveram perna curta.
Por ordem cronológica, na maior vitória eleitoral da nossa história o Plano Cruzado, pilotado por José Sarney, elegeu quase todos governadores e mais de dois terços da Câmara e do Senado. Por razões eleitorais, não recebeu as correções necessárias. Veio o tal Cruzado II. Sarney sentiu na pele o que é despencar do céu pro inferno.
Seu sucessor Fernando Collor, mesmo sem estar no poder, entre outras mentiras, inventou que Lula, seu adversário no segundo turno, iria a confiscar as cadernetas de poupança, na época muito mais poderosas. Venceu e confiscou a poupança. Começou aí sua decadência que culminou em seu impeachment, baseado em denúncias de corrupção. Assumiu Itamar Franco.
Décadas depois, a presidente Dilma Rousseff conseguiu a reeleição com uma campanha eleitoral agressiva em cima de indicadores, como conta de luz e outras mutretas em contas administradas pelo governo, na apertada final contra Aécio Neves. Fracassou ao tentar corrigir seus erros econômicos, foi acusada de estelionato eleitoral, e, depois de outras batalhas, perdeu o mandato para o vice “decorativo” Michel Temer.
Jair Bolsonaro, que não gosta de vacina, em caso de vitória se sente imune de impeachment primeiro por ter o general Braga Netto como vice, agora pela bancada que conseguiu eleger na Câmara e no Senado. Daí o descaramento do ministro Paulo Guedes ao admitir que para pagar toda a gastança pra tentar eleger seu chefe pode ser compensada em um pacote pós-eleitoral com a desvinculação do salario mínimo e aposentadorias da inflação. Uma garfada tão escancarada que teve de se desmentir depois.
Mas, se Bolsonaro perder pra Lula, até agora o mais provável, é outra história. Tudo o que foi feito à margem das leis será cobrada na Justiça. Em vez de glória, alguns dos autores desse mega estelionato eleitoral podem ir para a cadeia.
Tudo isso será decidido em 30 de outubro. Até lá, o TSE, Alexandre de Moraes à frente, promete combater as fakes news com mais rigor, troca de mãos espaços em inserções “comerciais”, o que até pode beneficiar um ou outro candidato, mas segue ignorando a atuação ostensiva da máquina pública. E, às vezes, erra na mão e censura críticas cabíveis em uma campanha eleitoral.
De acordo com políticos e especialistas em pesquisas e eleições, restam poucas variáveis para a definição do resultado, como abstenção, uma prevalência inusitada entre os indecisos e uma improvável virada de votos em eleitores que se declaram absolutamente decididos. Mas eleição é eleição. As urnas vão declarar o vencedor.
A conferir.