Dentre as aberracões que o bolsonarismo legitimou, uma é especialmente muito grave: o ataque a sacerdotes católicos pelos motivos mais vis. Uma cena viralizou na internet , a de uma mulher gritando na igreja após o padre citar o nome de Marielle Franco, Dom Philips e Bruno Pereira como vítimas da intolerância. Ela dizia que o padre não poderia citar o nome de Marielle na igreja, aquela homossexual esquerdista. Mentiu ao afirmar que Marielle era ligada a traficantes e que atuava para implementar a ideologia de gênero no Brasil (sabe-se lá o que isso significa). No vídeo era possível ouvir uma outra mulher, aos berros também, perguntando ao padre se ele defendia o aborto. Tudo isso, repito, porque ele falou da morte de Marielle.
A primeira mulher ensandecida repetiu várias vezes: “aquela homossexual”. Como se, pelo fato de ser homossexual, a morte de Marielle não pudesse ser questionada. Ou pior, talvez ela pense que Marielle deveria mesmo ter sido assassinada, afinal era homossexual e esquerdista.
Dias atrás conversava com dois irmãos que votam diferente. A conversa fluía bem, com cada um argumentando os motivos que levavam a votar em um e outro candidato. A pessoa que votava em Lula questionava, por ser homossexual, se o irmão não levava em consideração o risco que poderia correr com a prorrogação do bolsonarismo no poder. A outra pessoa reconheceu que Bolsonaro odeia gays, pois ele já demonstrou isso várias vezes, disse. Mas afirmou que tal constatação não tem nada a ver e não influenciaria a vida do irmão.
Nessa hora resolvi me meter e disse que tem a ver sim. Ao deixar clara sua aversão à população LGBTQIA+, o presidente reforça e legitima o ódio aos gays, podendo levar a desdobramentos como hostilidade, agressividade e, em casos extremos, assassinato.
Talvez existam pessoas que aleguem motivos nobres para votar em Bolsonaro. Cada um sabe onde aperta o seu sapato e o que é inegociável neste momento.
Porém, se alguém tem um parente gay, é fundamental reconhecer que o bolsonarismo estimula SIM o ódio aos homossexuais. E que, com as bênçãos do novo Congresso, super conservador, é possível que, caso Bolsonaro seja reeleito, a vida da população LGBTQIA+ se torne um inferno.
O bolsonarismo representa a vontade da maioria e o desprezo pelas minorias. Segundo esse pensamento, os homossexuais podem até existir, desde que se mantenham discretos. Para muitos fãs do capitão, sua coragem em expor a aversão ao grupo LGBTQIA+ coloca os pingos nos is. Como disse, os gays podem existir, desde que se coloquem no seu lugar, escondam-se, não manifestem afeto em público. E desde que não estimulem jovens e crianças a cometerem o mesmo “erro”.
Para o bolsonarismo, a homossexualidade é um erro, um desvio, uma doença, ou, se quiserem amenizar e usar um termo de que gostam muito, uma fraquejada. Eles toleram, têm até alguns amigos gays, mas jamais considerarão algo normal.
Mandar a turma LGBTQIA+ de volta pro armário pode ser um motivo nobre para alguns eleitores.
A notícia ruim é que existem gays que votam em Bolsonaro. Talvez eles também achem que o armário anda muito escancarado.